Audiobooks - uma nova ou antiga forma de ler?
Se os ebooks ainda não geram consenso e há quem não os considere livros, os audiobooks são claramente o membro mais menosprezado e ostracizado na família literária.
Eu sou fã.
Há uns anos dei uma oportunidade aos audiobooks e nunca esperei gostar tanto. Não oiço audiobooks para "ler mais", isso não me interessa e na verdade não leio mais por isso. Não é difícil perceberem porque há quem goste de ouvi-los: perguntem a qualquer criança se e porque gostam que lhes contem histórias mesmo depois de aprenderem a ler. Simples assim.
Eu oiço audiobooks em várias situações. Oiço no carro quando estou sozinha. São óptimos para viagens longas. Eu não consigo apenas ouvir um livro. O ideal é ter a atenção dividida em 2 actividades, uma mais mecânica. Conduzir e ouvir um oudiobook são duas coisas que conjugam lindamente. E podemos rir, até deitar uma outra lágrima, que ninguém vê. Oiço quando estou a fazer coisas chatas que não exigem que pense muito mas que exigem que não me distraia. Algumas tarefas domésticas ou mesmo algum trabalho que exige mais repetição que pôr os neurónios a funcionar também são excelentes para quando oiço um livro. O Tico e o Teco estão distraídos com a história e quando dou por isso o trabalho está feito e o tempo não custou a passar.
Outra vantagem dos audiobooks é que me fizeram redescobrir a criança que há em mim... e que adormece profundamente enquanto lhe contam uma história. Tenho imensa dificuldade em adormecer e às vezes ir para a cama (ou acordar a meio da noite) é sinónimo de ansiedade, voltas a mais na cama, muitos "mas porque é que não adormeço?" e "eu preciso dormir". A verdade é que obrigar-me a não pensar nisso (porque me concentro numa história) é, tantas vezes, aquilo que preciso para descontrair mais depressa e voltar a adormecer (valha-me o timer, que ponho em blocos de meia hora e que me permitem voltar rápida e eficazmente à parte que estava a ouvir antes de adormecer). Quando ouvir um audiobook não me adormece permite-me que aquele tempo não seja totalmente perdido e passe muito mais depressa. Não há como falhar aqui.
Mas ouvir pode ser considerado "ler"?
Acho que depende do vosso objectivo quando lêem um livro. Se é a história que vos encanta então o audiobook é uma óptima forma de "ler" - ouvir um bom narrador é uma maravilha. Aliás, o que é um escritor senão um contador de histórias? E não é a tradição oral tão importante na nossa história cultural?
A verdade é que um bom ou mau narrador consegue salvar ou destruir uma história - mas também uma revisão ou tradução.
Tal como os ebooks não me impedem de comprar livros físicos e adorar o objecto livro, também ouvir audiobooks não me impedem de pegar num livro e ler. Os aubiobooks não substituem livros, coexistem com eles. E, no meu ponto de vista, coexistem muitíssimo bem.