Dia do livro Português
Foi a 26 de Março do ano de 1487 que se imprimiu em Portugal o primeiro livro (O "Pentateuco" em Hebraico). Apesar do impressão do primeiro livro em Português ter sido a 04 de Janeiro de 1497, foi o 26 de Março o dia escolhido para chamar a importância para o livro e a língua portuguesa.
Tenho que confessar que ler livros de escritores portugueses não era, para grande tristeza da minha mãe, o meu forte. Sim, li os clássicos na escola e fora dela (e gostei bastante de muitos), li na infância muitos livros da Alice Vieira, da Ana Maria Magalhães e da Isabel Alçada (ainda hoje acho que a colecção Viagens no tempo é a melhor delas) mas só com o polémico e badaladíssimo "O amor é fodido" do Miguel Esteves Cardoso (sim, sou velha o suficiente para que este livro me tenha apanhado aos 15/16 anos - e naquele tempo este título era bastante "à frente") é que comecei a olhar com mais atenção para os escritores portugueses e a verdade é que não me interessava especialmente. Achava que os escritores portugueses escreviam para uma elite e eu nunca gostei de elites. Traduzindo isso, acho que sentia que não havia, ou eu não conhecia, livros escritos por portugueses para jovens adultos que me interessassem. Não esqueçam que não havia internet para ir à procura de livros, dependia das idas esporádicas à livraria, do que se falava na televisão ou do que família e amigos sugeriam.
A verdade é que continuo a achar que este segmento é bastante descurado, o que é uma pena. Não é que não haja livros - neste momento já há bastantes mas são pouco valorizados, editados, revistos o que faz com que não atinjam o seu potencial. Provavelmente este é um problema que afecta todos os livros, de todos os géneros mas nota-se mais nos género YA porque muitos jovens escritores apostam neste género (muitas vezes simplesmente por se inserirem nestas faixas etárias) e, bem, se qualquer livro precisa de edição, um primeiro livro, ainda precisa mais. E isto não é uma crítica - é a constatação de que os miúdos/as que começam a escrever têm pouco ou nenhum apoio, há muita auto-publicação e pouca coisa boa para os próprios sai da auto-publicação. A fantasia - outro género excelente para começar a ler - também não tinha qualquer expressão em português quando eu era adolescente. Agora já começa a haver algumas coisas mas é outro género muito desvalorizado por aqui.
Quando me comecei a interessar a sério pela literatura portuguesa fiquei admirada e nunca mais parei de descobrir escritores fabulosos. Escreve-se tão bem por cá. E no entanto ainda continuo a ouvir muitas vezes "eu não leio escritores portugueses". Porque é que desvalorizamos tanto os nossos? Há tanta coisa bem escrita, divertida, arrojada e com imensa qualidade escrita por escritores portugueses.