Rhythm of War, de Brandon Sanderson
Chegou hoje. O confinamento acabou de se tornar infinitamente mais interessante.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Chegou hoje. O confinamento acabou de se tornar infinitamente mais interessante.
Gosto de dias assim, em que o tempo parece parar.
Ver o nevoeiro chegar, instalar-se, diminuir o mundo, é um espectáculo incomparável.
E o silêncio que estes dias trazem?
Penso muitas vezes que devia apagar o blog uma vez que lhe dou tão pouca atenção. Para vos dizer a verdade voltei a escrever e a registar as leituras num caderno porque a vontade de vir escrever aqui tem sido pouca. Descobri não ter (ainda) a coragem de acabar com isto (acabar com o Facebook e com Instagram foi infinitamente mais fácil) porque há muito da minha história com os livros aqui, porque dediquei muito tempo a blog e porque eu gosto bastantes de blogs - são sempre a minha plataforma favorita de partilha de leituras.
O ano de 2020 em livro seria arrumado, por um leitor de 2019, na prateleira das distopias. Hoje gostaríamos de o arrumar na prateleira dos Históricos mas infelizmente ainda o vivemos. Nada, nem sequer a literatura, será a mesma depois destes tempos (mais estranhos que) extraordinários. Nenhum de nós ultrapassará este ano sem marcas.
Tenho a certeza que alguns livros marcaram/marcarão este tempo e que ainda diremos (eu sei que direi) que os "livros lidos na pandemia" nos ajudaram a manter a sanidade mental.
Na primeiro confinamento muita gente dizia que não estava a conseguir ler, que não se conseguia concentrar o suficiente. Comigo nunca aconteceu, confesso, mas o meu ritmo de leitura tem diminuído muito. Não é que isso me incomode "per si" mas as razões pelo qual às vezes me é difícil pegar num livro já me chateiam mais um bocadinho (a vida acontece e nem sempre é maravilhosa).
Quando voltei a confinar (esta palavra entrou para sempre no nosso vocabulário, não é?), separei alguns livros para os próximos tempos. Em primeiro lugar os livros que me emprestaram: A casa quieta, do Rodrigo Guedes de Carvalho e Nunca me Deixes, de Kazuo Ishiguro. Depois um dos últimos livros que comprei: Cidade Infecta, de Teresa Veiga.
Para já estou a ler A casa quieta, um livro que me está a angustiar bastante (paradoxalmente é tão bom quando isto acontece, não é?) e que, como tal, estou a ler devagarinho. No Kobo tenho em andamento o "Rua de Paris em dia de chuva" da Isabel Rio Novo que, para vos dizer a verdade, ainda não me convenceu (apesar de ter algumas opiniões fabulosas de grandes leitoras). E no telemóvel vou (re)ouvindo o Oathbringer, já em contagem decrescente para o 4º volume dos Stormlight Archive do Brandon Sanderson que sairá no dia 26 de Novembro.
E vocês, o que andam a ler?
Na sequência do "A história de uma serva", uma distopia que deu que falar nos últimos anos, este Os testamentos leva-nos a Gileade, onde as mulheres têm poucos direitos, onde ler é uma actividade reservada aos homens (e a algumas - poucas - mulheres), onde as meninas são forçadas a casar assim que entram na puberdade e onde a corrupção é cada vez mais presente.
Um aparte para comentar a proibição da leitura. Este elemento não é novo nem na ficção nem na realidade. Uma e outra vez somos obrigados a olhar para esta actividade como um privilégio e ainda assim desvalorizamo-la tanto. Muitos sabem o que fazem - uma sociedade sem livros é uma sociedade acrítica, sem vontade, sem capacidade de luta. Mas continuamos a dar pouco, muito pouco, valor aos livros, ao conhecimento, à educação, à escola - sítio único onde a igualdade de oportunidades tem uma hipótese de vingar e ser uma realidade.
Voltando a Os testamentos (que eu preferia que se chama-se "Os testemunhos" mas como não sou tradutora, deixo isso apenas como uma opinião sem grande validade)
Ao longo das páginas deste livro conhecemos a história e o testemunho de três personagens: Lydia, uma Tia fundadora, a testemunha 369A e a 369B. Três mulheres diferentes, com percursos bastante distintos mas que, sem surpresa, se vão cruzar.
É bastante interessante acompanhar o percurso e o que o condiciona, as escolhas de cada uma. A noção de somos, não apenas o que a sociedade e os outros fazem de nós, mas também (e acima de tudo) produto das nossas escolhas está bem patente neste livro.
Como sempre, este género de livro - que tantos descartam como "fantasias" - reflecte profundamente sobre a sociedade actual, as escolhas, anseios e preocupações que nos afectam hoje (aliás, 2020 tem transformado muitas distopias em "ficção muito perto da realidade").
Margaret Atwood continua a revelar-se uma voz importante e incontornável
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.