O gesto que fazemos para proteger a cabeça, de Ana Margarida de Carvalho
Depois de um início difícil, este é um livro que se lê surpreendentemente bem... considerando a total ausência de pontos finais e parágrafos em cada capítulo (há 6 neste livro de 255 páginas). Tem, como já é hábito, um ritmo muito especial, uma cadência própria da "voz" da autora. Talvez por tudo isto seja um livro para se ler em voz alta (o que eu gostava de ouvir isto em audiobook), com tempo, uma vez que cada capítulo é uma única e longa frase. A prosa é rica, poética, bonita. Talvez até um bocadinho a mais que o necessário porque, às páginas tantas, eu queria era saber o que estava a acontecer, o que ia acontecer a cada uma daquelas personagens.
Queria saber de Simão, bondoso, inocente, crédulo e de Maria Albertina, o seu único e verdadeiro amor. Queria saber de Constantino, odiado pela mãe, um de dois, que fica subitamente amputado de parte de si. Queria saber das mulheres de Nadepiori, com chumbo nas bainhas das calças, cabelos ao vento e regras de conduta muito próprias. Queria saber da Tenenta, de Séfora, de Camilo, de Sandoval ou da Lariça (que, tenho para mim, se daria lindamente em Nadepiori).
Não terá sido um dos livros mais fácieis que li mas foi, sem dúvida, um dos que me deu mais gosto acabar.