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Ler por aí

Ler por aí

30
Abr20

leituras e outras coisas em tempo de quarentena

Patrícia

Acho que, quando nós leitores, ouvimos falar de quarentena e de isolamento social começámos a fazer listas mentais de que livros íamos ler naquele tempo livre todo que subitamente nos ia cair no colo.

Umas semanas depois comecei a ouvir as queixas: "não tenho lido nada", "não consigo ler" . E os que conseguiam ler comentavam que só conseguiam ler thrillers ou fazer releituras. 

Eu não posso dizer que li menos nesta altura que noutra qualquer - a minha velocidade de leitura tem abrandado e o tempo disponível para as leituras também - mas isso já não é de agora.

Quando me preparei para este isolamento social pensei nos livros. E fui comprar um. Queria comprar o Testamentos, da Margaret Atwood (falhei a data de publicação por dois ou três dias) e acabei por comprar o O pintor de Almas, do Idelfonso Falcones. Por acaso foi um tiro ao lado mas a intenção foi boa. Comprei um livro dentro da minha zona de conforto, sem grande exigência e de leitura rápida. Ah, e grande. Ser um calhamaço sempre foi a forma ideal de me interessar. 

Haverá várias razões pelas quais tantos não se conseguem concentrar na leitura. Os tempos excepcionais que vivemos obrigaram-nos a mudar de hábitos. O isolamento social obrigou muitos de nós a viver mais digitalmente. Toda a gente em casa ao mesmo tempo roubou-nos o silêncio e obrigou-nos a olhar para o outro. Houve até gente a descobrir que não gosta lá muito das pessoas com quem vive. Há quem queira rifar filhos, marido/mulher e animais. 

A maioria de nós, eu incluída, não trabalha menos em teletrabalho - muito pelo contrário. No meu caso, já trabalhava de casa muitas vezes (a empresa onde trabalhava permitia-me fazê-lo até 5 dias por mês) por isso a única adaptação que tive que fazer foi habituar-me a ter um companheiro de teletrabalho (para além do ZéGato, claro, que é sempre a minha sombra fiel) uma vez que o meu marido também ficou a trabalhar aqui.

O tempo que ganhei das viagens que agora não faço, gasto a tratar da casa (que se suja muito mais), a fazer comida ou a conversar com amigos. E isso foi, talvez, a melhor coisa deste tempo. Tenho conhecido imensa gente. Amigos que normalmente não me convidam para cenas presenciais (sabem que não ia poder aceitar) desataram a incluir-me nos encontros virtuais e tem sido super interessante. Os clubes de leitura desataram a promover reuniões. As reuniões mensais passaram as quinzenais ou semanais e as trimestrais a mensais. Tem sido espectacular. Mas o tempo para as leituras vai-se.

Por outro lado, passei muito tempo nas redes sociais. A necessidade de informação fez-nos viver com o telemóvel na mão demasiado tempo. Houve uma altura em que senti necessidade de desligar tudo. Comecei a desligar net e TV depois do jantar e fui recuperando o equilíbrio e abrandando, o que me permitiu ler sem paragens e a apreciar bastante mais o que estava a ler.

A verdade é que cada dia me apetece mais ler. Talvez por estar tão rodeada por pessoas que vivem os livros de forma intensa. Talvez por já me ter adaptado a esta estranha forma de vida. Mas uma vez mais constato que ler faz parte e é fundamental para o meu equilíbrio. 

 

 

27
Abr20

E as vossas leituras, como vão?

Patrícia

Eu ando a ler mais, retomei o As benevolentes e agora só páro quando o acabar. Não gosto de ter livros por terminar e este já anda nesse estado há demasiado tempo. Por alguém motivo estranho achei que um livro, do tamanho de um tijolo, sobre a segunda guerra mundial era o ideal para levar numa viagem para o outro lado do mundo. Claro que li pouquíssimas páginas na viagem e aproveitei para dormir. Provavelmente não teria lido qualquer outro livro que tivesse levado (estava na altura com um défice de sono que já estava a fazer estragos) mas este foi, definitivamente, o errado.

Apesar de não o ter começado na altura certa, este é um grande livro apesar de ser extremamente violento e triste. E importante. Mas tem sido uma leitura difícil a vários níveis até porque está cheio de descrições que não interessam nem ao menino jesus e de títulos do exército alemão que são absolutamente imperceptíveis. Eu tenho em ebook e tem uma manifesta falta de notas de rodapé. E estar sempre a saltar para o glossário não é, sequer uma opção viável.

Tenho também em andamento o "Madre Paula" que leio quando não me apetece, de todo, pegar no As benevolentes. Este é um livro que se lê bem e é interessante. Mas não consigo gostar da Paula e passo o tempo todo com vontade de lhe dar estalos. 

Li o "à espera no centeio", hei-de escrever um post sobre ele um dia destes. Amanhã vou participar numa discussão sobre este livro no clube de leitura a que pertenço e tenho a certeza que vou aprender bastante, que a minha opinião vai ser (também) formada por essa conversa e que ficará bastante mais interessante depois disso.

Houve uma altura em que achava que devia escrever as opiniões antes de discutir o livro com quem quer que seja, como se isso fosse de alguma forma garante de uma certa autenticidade e sinceridade. Actualmente não penso assim. Por um lado escrevo mais para mim que para vocês e isso significa sempre escrever o que e quando quero e por outro uma discussão enriquece a minha visão sobre o livro, chama-me a atenção para pormenores que não tinha reparado e ajuda-me a aprofundar e a limar a minha própria opinião. Discutir um livro obriga-me a reflectir um bocadinho mais sobre ele e a minha opinião só ficará definitiva após essa reflexão.

Acabo sugerindo-vos ler um texto que me provocou uma panóplia de reacções. Revirei muito os olhos e rangi os dentes. Acho que até disse alguns palavrões. Mas ainda assim, acho que merece ser lido. E acho isso porque sei que aquela é a opinião de muitos jovens. Caramba, acho que pensei assim quando era miúda. E é por isso que eu sei o quão a Helena Magalhães está errada em algumas das afirmações que profere mas merece ser ouvida. Está errada quando diz "Não se pode pedir que um jovem de 25 anos hoje se interesse por Saramago ou António Lobo Antunes ou Agustina Bessa-Luís ou Lídia Jorge ou Eça de Queiroz", está errada quando diz que se está a "perpetuar uma literatura portuguesa que arrasta as cinzas de um Eça ou de um Pessoa" mas merece ser ouvida porque essa é a percepção de muitos jovens e isso não deve, de forma alguma, ser ignorado ou desmerecido. Não me apetece esmiuçar o texto, até porque a minha intenção é apenas realçá-lo para que possa ser discutido e utilizado para fomentar uma discussão necessária e urgente mas vou comentar apenas uma das frases em destaque "A literatura tem de se adaptar aos leitores de hoje" dizendo que não, a literatura não tem que se adaptar aos leitores de hoje. E os leitores de hoje não são os miúdos  que estão a começar a aprender a ler. Os leitores de hoje somos todos, miúdos e graúdos, leitores novos, velhos, de meia idade. Talvez se possa dizer que as editoras têm que se adaptar aos leitores de hoje, a todos, isto se querem vender e sobreviver (apesar de eu achar que esse é um dos problemas, as editoras adaptam-se mas os leitores de hoje, como a Helena diz, querem ler mas não comprar, pelo menos não o tipo de compra que paga direitos de autor).  

 

10
Abr20

O pintor de almas, de Ildefonso Falcones

Patrícia

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Do escritor de A Catedral do Mar (podem ler duas opiniões deste livro, a minha e a da Catarina) achei que seria o livro ideial para ler neste isolamento social que vivemos por estes dias. 

Um livro contado a duas vozes, a de Dalmau e a de Emma. Infelizmente nenhum dos dois me convenceu. Aliás, o livro não me convenceu. Lê-se razoavelmente bem mas às tantas torna-se um bocado chato, nada de novo acontece, os personagens parecem não crescer, não aprendem com o erros e conseguem ser muito burrinhos o que, num livro de muitas páginas, aborrece. Mas lê-se bem, o autor escreve bem, aprende-se imenso sobre Barcelona do início do séc XX e para quem não se importa de ter uma história cheia de clichés e de tragédias, tem aqui um bom livro. Para quem espera mais que isso... bem, talvez não valha a pena.

Não me vou alongar muito na opinião e pode haver alguns spoiler mas deixem-me desabafar um bocadinho.

Qualquer livro que retrate uma época que não a nossa tem que ser lido à luz da cultura e dos costumes dessa época. Eu eu não sou, de todo, perita na sociedade de Barcelona do início do sec XX mas porque raio Emma, tão liberal nalgumas coisas e defensora dos pobres e oprimidos consegue ser tão obtusa noutras coisas? A luta contra a igreja e todas as suas restrições morais e ao mesmo tempo a total submissão ao patriarcado no partido - aliás a todos os homens que com ela se cruzam, e todos os homens que com ela se cruzam são umas bestas totais com excepção de dois. Mas todos ficam loucos com ela, com as formas do corpo dela, com a beleza, etc, etc... uma bela oportunidade desperdiçada. Apenas Josefa (a querida, doce e sofredora Josefa, tinha algum género de respeito por si própria).

E porque raio Marvilhas não foi melhor aproveitada? A personagem mais interessante... completamente ignorada e que apenas serviu para cumprir o propósito de fazer o casal maravilha ainda mais miserável. Um desperdício. 

Tenho mesmo muita pena de não me ter conseguido apaixonar por esta história mas, às tantas, só queria acabá-lo para passar para outro.

01
Abr20

#2 - A necessidade aguça o engenho - Os clubes de leitura

Patrícia

Quem vai regularmente a um clube de leitura sabe o quão estes encontros são importantes para a saúde mental de quem neles participa. Sim, nós gostamos de ler e de falar de livros. Nesta época de isolamento social era impossível encontrarmo-nos pessoalmente na Biblioteca dos Olivais e, como quem não tem cão caça com gato, passámos para o modo online. 

E devo dizer-vos que correu muito bem. Foi uma tarde de Roda dos Livros com muita conversa e muitas partilhas. E que se irá repetir várias vezes durante esta quarentena.

Aqui ficam as sugestões da RODA DOS LIVROS para a época da quarentena.

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