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Ler por aí

Ler por aí

25
Mai18

A feira, que é de todos mas também minha

Patrícia

Já estão preparados?

Lá em casa já ninguém me pode ouvir falar da feira do livro, há olhos revirados mas com aquele amor que caracteriza os que gostam de nós.

A verdade é que não tenho grandes planos para a feira. Até tinha mas a vida troca-nos as voltas e já não tenho. Mas ainda espero ir várias vezes ao parque, aquele que hoje se torna o paraíso de todos os viciados em livros. 

Até posso não ter listas preparadas, nem ter grande interesse nas sessões de autógrafos. Os livros do dia até podem não me interessar muito e sabe o deus (para o efeito julgo que será Baco, o escolhido) que me devia manter afastada das farturas (por outro lado subir e descer o parque conta como exercício físico). Mas feira é feira e há livros. Muitos livros. Livros para todos os gostos. Livros que me fazem brilhar os olhos e que vão encher a minha casa já cheia de livros.

E há escritores em cada canto, com quem podemos trocar duas palavras. E há eventos. Debates, tertúlias. Há música também. Há alfarrabistas e promoções. E há a hora H.

Há gente dos livros, que é como quem diz, bloguers, youtubers, gente que ama os livros de igual modo.

E se há quem espere ansiosamente por um concerto, há quem espere ansiosamente pela feira (eu, eu, eu).

Já estão preparados para feira? Eu estou, encontramo-nos por lá :)

 

19
Mai18

Da responsabilidade do leitor...

Patrícia

Diz a Márcia, enquanto fala de descontos e outras tentações, na inominável do mês de Abril (ide à ler a revista toda)

Sabem aquela livraria da minha infância? Já fechou. Era um espaço pitoresco com enormes estantes de madeira que cheiravam a óleo de cedro. A livreira estava sempre atrás de uns óculos (muito) graduados e parecia que toda a gente aparecia lá para lhe cortar a leitura (quem consegue não rir com esta situação?). Podíamos passear as mãos pelas prateleiras recheadas, fazer uma pilha e ler um pouco de cada livro até decidir, tudo ao som de música clássica, sentados numa poltrona.

Hoje é um bar. Fico triste quando passo por lá.

A Márcia podia ter-lhe chamado "a responsabilidade do leitor". Não posso concordar mais com este texto. Eu, que tenho um "mau feitio" bem mais acentuado que ela, vou ainda mais longe e imagino um futuro não só sem livrarias como também sem livros de autores portugueses ou sequer livros em português. E eu não quero esse futuro. Eu quero um futuro com livrarias cheias até acima de livros para todos os gostos. Quero um futuro com muita e boa literatura. Quero um futuro em que ler seja normal e habitual. Quero um futuro com escritores, livreiros, livros, editoras e leitores. 

15
Mai18

Elantris, de Brandon Sanderson

Patrícia

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Tal como vos disse aqui, este é o primeiro livro do Brandon Sanderson. E que bom é.

 

Elantris é um livro de fantasia (esperem, não fujam já). Elantris não é só um livro de fantasia. É um livro de intriga política e religiosa. É um livro que tem uma história brutal, um mundo bem conseguido e personagens interessantes. É um livro que nos faz reflectir, questionar o mundo em que vivemos.

O mundo criado por Brandon Sanderson (Sel) está muito bem construido. O sistema de magia, baseado na linguagem é coerente, interessante e com um potencial enorme (talvez pouco aproveitado mas como há algumas novelas passadas em Sel e a promessa de outras histórias em Elantris, tenho para mim que ainda vou aprender bastante sobre Aons). A ligação a Cosmere não é óbvia mas este é o primeiro livro do universo. A presença do Hoid é rápida mas não acrescenta nada. Foi talvez o que mais me desiludiu no livro.

A intriga política tem uma forte presença neste livro. Sarene, que foi uma das responsáveis pela diplomacia do seu reino, não esconde deste o início que gosta do jogo político. Os seus motivos são puros (isso nunca está em causa) mas é óbvio que a política lhe está no sangue, que é uma líder nata e é através dos seus olhos que mergulhamos no sistema político e ditatorial de Kae, onde o capitalismo é rei e senhor, onde a posição social é apenas ditada pela riqueza. Pelos olhos de Raoden vemos como se constrói, organiza e põe a funcionar uma sociedade onde o valor de todos é igual e cada qual dá o melhor de si. E vemos como ambas colidem, como são antagónicas e como, por vezes, se complementam. 

Também em relação à religião temos várias vertentes, para todos os gostos. Tal como no nosso mundo, religião, fé e política misturam-se. E, tal como no nosso mundo, quando isso acontece... bem todos nós sabemos o que acontece, não é?

A literatura permite-nos reflectir sobre deus e crises de fé de uma maneira fantástica e o autor é exímio a levantar questões.

O desenvolvimento das personagens são um dos pontos fortes do Sanderson. Elantris, sendo um primeiro livro, não é excepção. Apesar de alguns elementos da "jornada do herói" serem óbvios neste livro (e na verdade não há como, na fantasia, fugir muito a esta estrutura básica)  - e aqui inserem-se os "maus da fita", vilão e anti-herói) é nos heróis que o livro ganha a batalha. Há quem considere exactamente o contrário e considere o Raoden e a Sarene como personagens planas, uma vez que não há um crescimento notável ao longo do livro. Verdade, Raoden e Sarene são coerentes e consistentes ao longo de todo o livro... porque me parece que para o autor era mais importante o que aqueles personagens conseguiam fazer, a mudança que conseguiam trazer ao mundo do que a sua própria transformação. E isso é o mais espectacular de tudo. Isso e o romance não ser, de todo, uma parte fundamental do livro. 

Se vale a pena ler? Claro.

Ainda voltarei a Elantris...

 

14
Mai18

Elantris - uma introdução

Patrícia

Elantris é um primeiro livro. O que é irritante tendo em consideração o quão bom é. Para além de ser um primeiro livro, é um livro cuja história começa e acaba no mesmo volume. Quer dizer, mais ou menos. Quem já conhece o Brandon Sanderson sabe que com ele nunca é bem assim. Sim, a história de Elantris basta-se a si mesma mas é também o início da grande aventura que é Cosmere.
Apesar de eu já ter lido alguns livros do universo Cosmere (Mistborn Era 1, Warbreaker, Edgedancer e Stormlight archives) a verdade é que nunca tinha lido o início de tudo. O desafio, até que seja publicado o quarto volume da saga de Stormlight Archive, é ler (ou reler) os livros e tentar construir o grande puzzle que é Cosmere.
Ler Brandon Sanderson é sempre uma experiência interessante. Este é o autor que mais interage com os seus leitores e que nos faz sentir parte do processo. Há até uma secção no seu site com anotações, capítulo a capítulo, que nos permite ler o livro como o autor gostaria que o lêssemos. Para quem lê o livro pela primeira vez - ou até para quem está a começar a ler o escritor - talvez isto seja até demasiada informação. Ler é acima de tudo uma experiência individual e deixarmos que alguém - nem que seja o próprio escritor - conduzir-nos nessa leitura pode ser demasiado e desnecessário. Ou pode ser interessante. A minha sugestão é que a primeira leitura não seja acompanhada.
Ler um livro de fantasia implica sempre um mergulho no desconhecido. É necessário tempo para que nos adaptemos a outra realidade, a outros mundo e a outras regras. É necessário que tenhamos a abertura de mente suficiente para permitir transformar um mundo ligeiramente diferente dos nosso em algo familiar.
Claro que o BS ajuda bastante. Apesar de ter fabulosos sistemas de magia (se bem que todos, nos livros do universo de Cosmere, se baseiam num princípio chamado Investiture - conceito de que falaremos vezes sem conta e que um dia talvez percebamos melhor) os seus livros são maravilhosos por várias razões para além da magia. Acho que o autor nos mostra que não há temas tabu para a fantasia, que a discussão de problemas fundamentais pode ser feita nas páginas de um livro deste género e que a intriga política é um tema a não resiste. Mas confesso que a mim é a interacção entre os personagens que mais me interessa, é a construção multi-dimensional de cada personagem que me atrai.
Elantris, casa de semi-deus escolhidos pelo Shaor (transformation), cidade caída em desgraça há 10 anos onde o acesso ao Dor se perdeu, Em vez de semi-deuses, os escolhidos pelo Shaor transformam-se numa espécie de zombies (não consigo deixar de revirar os olhos mas é, de facto, a melhor descrição para o resultado da transformação). Ora o primeiro dos personagens que vamos seguir ao longo desta leitura é precisamente um dos escolhidos pelo Shaor, o Raoden, príncipe herdeiro de Arelon que é atirado, sem apelo nem agravo, para Elantris que se tornou, nos últimos anos, numa cidade-prisão.
Azar dos azares, Raoden vai para Elantris (em segredo, pois oficialmente está morto e enterrado) antes de conhecer pessoalmente a noiva, Sarene. Apesar de ser acima de tudo um acordo político, tudo leva a crer que aqueles dois iriam dar certo pois ambos são, acima de tudo, inteligentes. Aliar a essa inteligência, bondade e humor, parece ser o caminho para fazer destes 2. personagens interessantes - e deixar o suposto romance de lado, para segundo plano (Brandon, confio em ti para não transformares o amor destes dois no centro da história, ok?).
O anti-herói desta história - basta-nos umas páginas para perceber que não vai ser o vilão, certo? - o Hrathen, vem para tentar salvar os habitantes do reino, convertendo-os à sua religião (onde é que já vimos isto, certo). Aposto em crises de fé, especialmente depois de ser brutalmente manipulado pelo verdadeiro vilão.
Ao longo da leitura hei-de vir contar-vos as minhas teorias, falar dos personagens, dos momentos e das frases que me têm marcado ou simplesmente chamado a atenção. Se estiverem a ler o livro e quiserem falar, trocar dois dedos de conversa, se me quiserem contar as vossas teorias, usem e abusem da caixa de comentários.
Boas leituras
Journey before destination - enjoy the journey

05
Mai18

Já começaram a preparar-se para a Feira do Livro?

Patrícia

A de Lisboa, claro. A que se vai realizar entre 25 de maio e 13 de junho?

Se ainda não começaram os preparativos espero que não seja tarde demais.

Espero que tenham reservado todas estas semanas e não tenham casamentos nem baptizados, consultas médicas ou fins de semana fora... a não ser que não sejam de perto de Lisboa e estejam a pleanar visitar o parque por estes dias.

E as listas? Há que fazer listas e listas. Ir à procura dos caderninhos onde apontaram o nome daquele livro que querem muito ler mas de que já não se lembram o nome, passar tudo para uma nova lista, riscar aqueles de que já não sabem porque estão ali e os que afinal não querem muito. Depois de chegarem a uma lista final (sim, dá trabalho, eu sei) vão perceber que afinal se esqueceram daquele livro.

E o orçamento? Não se estiquem no orçamento porque o vão ultrapassar. Vejam o preço de todos os livros da lista na livraria, calculem descontos e escrevam à frente de cada título o preço pelo qual estão dispostos a comprá-lo.

Quando forem divulgados os eventos e os livros do dia é altura de irem à agenda e garantirem que não se vão enganar e marcar o dentista para aquele dia em que o vosso autor favorito vai à feira ou para o dia em que 3 dos livros que querem comprar estão com 50% de desconto.

E a roupa? Não se esqueçam que vão ter a oportunidade de conhecer inúmeros escritores (não se esqueçam de levar todos os livros desses escritores convosco para os trazer de volta com um autógrafo), blogger, youtubers e afins e têm que estar na vossa melhor forma  (marcar cabeleireiro e manicure).

Ah e não se esqueçam de combinar com toda a gente que querem ver/rever ou conhecer, garantindo que as pessoas que se detestam não se cruzam e não vos estragam o dia/noite.

ufa, Isto de ir à feira custa!

 

ainda aí estão? 

 

a sério?

 

Bem, a minha preparação para a feira é simples: ténis, t-shirt para o calor, camisola com capuz para a noite, mochila vazia (com uma garrafa de água) para carregar o que comprei (ou o meu marido, que faz de carregador-mor em troca de uma fartura),  cartão multibanco, cartão do cidadão no bolso, telemóvel carregado e chaves do carro. 

Ah e amigos. Não dispenso os encontros habituais, o pessoal da roda, a minha Cati do coração, as farturas e a ginginha.

01
Mai18

Leitores em construção

Patrícia

Somos todos leitores em construção.

Construímo-nos a cada livro que lemos, a cada livro que nos transforma, que nos dói ou nos encanta.

Mas se é verdade que ler tem um lado lúdico muito importante (e admito que esse lado seja – para a maioria de nós, leitores - o mais importante), a verdade é que ler também deve ser mais do isso.

Ler deve ser um caminho para o crescimento, para a maturidade. Ler deve tornar-nos mais sábios, questionar as nossas crenças, as nossas certezas.

A verdade é que quanto mais leio mais pequena me torno. Quanto mais leio mais compreendo o quanto me falta crescer enquanto leitora. Não entendam pf isto, esta declaração de que ainda tenho que crescer enquanto leitora, como “falsa humildade” (que aqui entre nós é coisa de que não sofro) mas sim como a real noção de que ainda não atingi o meu potencial enquanto leitora. Para ser verdade gostava de nunca o atingir. Gostava de ter sempre esta ânsia de aprender, de ler mais e melhor.

Gosto da sensação de entrar numa livraria e ter tantos livros à minha disposição. Gosto de não me limitar e de não ter “medo” de pegar num livro “complicado”. Gosto da sensação de ler e ter que reler. Gosto de mergulhar nos vários níveis de um livro. Gosto de ser desafiada por um livro.

E, acima de tudo, acho que esta dimensão mais educativa da literatura (não é por acaso que neste ponto prefiro usar a palavra literatura em vez de livro) é a mais importante. O acto de ler e de compreender é muito importante. Isto para nem falar do facto do cérebro precisar ser estimulado e da leitura poder ter um grande papel nessa parte.

Os grupos de leitores (nomeadamente a Roda Dos Livros) em que tenho participado têm tido um papel fundamental no meu crescimento enquanto leitora, o que me tem feito questionar a ideia de que ler é fundamentalmente uma actividade solitária. Na verdade, a partilha de informação tem sido extremamente importante para olhar para os livros de forma mais crítica e fazer análises mais completas.

Desafiarmo-nos, enquanto leitores, é (quase) tão importante como desafiarmo-nos enquanto pessoas. Aliás, para mim e acredito que para vocês tb, estes dois conceitos estão tão emaranhados que se torna impossível separar um do outro.

Um exemplo do que acima escrevi, de que ler me desafia a pensar é saber que este texto (e os rascunhos que lhe deram origem) nasceu da reflexão que a leitura do post A história de um leitor, da Miúda Geek, me obrigou a fazer.

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