Entre o sono e o mundo de Uma Senhora Nunca, de Patrícia Müller
Entre o sono e o mundo de Maria Laura em "Uma Senhora Nunca", de Patrícia Müller. Assim se passa uma tarde de Verão. Sempre gostei destas horas em silêncio, quando todos, até o gato, dormem cá em casa. Gosto do silêncio. Gosto de ler sem hora marcada, sem hora para terminar, numa moleza de verão. Gosto mais do inverno, sinto-me bem, acompanhada de uma manta e de uma chávena de cá, com o cheiro da chuva. Mas as tardes intermináveis de verão, quando está demasiado calor para ir para a rua, quando até os animais se escondem na sombra, dessas tardes eu também gosto. Fazem-me voltar às tardes da minha infância, aos mundos dos livros que lia por amor às letras e por não ter ordem para sair até que o sol desse tréguas.
Às tardes em que podia ser tudo. A casa toda em silêncio, naquele silêncio completo que já só sinto quando regresso a essa casa na aldeia (a cidade faz barulho) e o meu mundo crescia tanto quando a minha imaginação permitia. Deitada no chão (estava demasiado calor para os sofás), às vezes escondida no vão da janela, geralmente com um gato por perto. Sempre gostei de gatos e sempre gostei de livros. E de silêncio. Cada vez gosto mais de silêncio.