Contracorpo, de Patrícia Reis
Às vezes questionamo-nos como é possível que um livro descreva tão bem coisas que sentimos e nunca conseguimos transmitir.
Às vezes perguntamo-nos como é possível que aquele escritor escreva sobre nós.
Às vezes transformamos em nosso um livro e torna-se difícil, ou mesmo impossível, opinar sobre ele.
Este é um daqueles livros em que isso me aconteceu e por isso ando há semanas a “engonhar”, a processá-lo na minha cabeça, assim meio esquecido, meio presente.
Quando acabo de ler um livro e tento pôr em palavras a minha opinião, a primeira coisa em que penso é no tema do livro, na mensagem que o escritor/a quis passar e se (eu acho que) o conseguiu fazer. Ora, de início, achei que obviamente este era um livro sobre o luto. Maria perde o marido, Pedro perde o pai e ambos têm que aprender a viver sobre isso. Depois torna-se óbvio que o livro fala sobre a maternidade, sobre a relação de uma mãe com o seu filho adolescente. Depois percebi que este livro é uma viagem de autoconhecimento, para ambos, mãe e filho.
Mas para mim, e provavelmente só para mim, este livro é sobre a transformação. Maria começa por ser a viúva, a mãe e precisa, sob pena de se perder definitivamente, de se transformar, acima de tudo, na mulher.
E o Pedro precisa de se encontrar, de se responsabilizar. Apesar de à sua volta todos julgarem todas as suas atitudes à luz daquela morte (a morte de um pai marca, muda e condiciona tudo), o Pedro tem consciência de que as suas atitudes são suas e que também ele se tem que libertar das desculpas, dos condicionamentos, assumir as suas responsabilidades e acima de tudo tomar decisões, fazer escolhas. Escolhas, é isso. Escolhas.