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A minha história com esta tetralogia continua a espantar-me. Leio compulsivamente e se tivesse os outros dois volumes provavelmente só parava quando tivesse acabado de ler história da Lenú e da Lila. Mas a verdade é que, depois de fechar de o livro, a magia vai desaparecendo e não consigo ficar assim tão ansiosa pelo próximo volume. Ainda assim, gostei mais um bocadinho deste volume do que do anterior apesar de não ser, para mim, tudo aquilo que dizem ser.
Lenú e Lila continuam a crescer e a percorrer caminhos distintos apesar do elo que as une. Lila, menina-mulher, luta para não se tornar num cliché, luta para não se tornar em mais uma mulher do bairro, sem rosto, sem vontade, sem nome. Mas tantas vezes a vemos como uma sombra de si. Lenú, continua a crescer e a sentir-se uma farsa. Ela própria se surpreende com as suas vitórias e, apesar de continuar a lutar com unhas e dentes, continua a sentir-se à sombra da Lila, que aos seus olhos continua a ser aquela a quem Lenú precisa mostrar o seu valor.
Elena Ferrante conta-nos esta história de uma forma fenomenal e é exímia em tornar reais sentimentos. Será por isso que tanta gente diz que esta é uma escrita "obviamente feminina"?
A angústia de Lila, a raiva, o medo, a frustração que transbordam daquela criatura. Lila é sempre excessiva, seja na raiva, seja no amor. E o contraste desta explosão de sentimentos com a apatia que por vezes mostra deixa-me estarrecida.
Mas é Lenú que, uma vez mais, me fascina. E me entristece. Quando Lenú descobre que não pertence ao mundo a que tanto lutou para pertencer, ao mundo que deveria ser seu por direito mas que também já não pertence ao bairro, que nunca mais pertencerá ao bairro, o meu coração sofreu por ela. Sentir-se sem chão, sem nada nem ninguém que sirva de âncora é o que de mais triste pode existir.
Antes disse que Elena Ferrante tinha todo este sucesso porque sabia contar bem uma história. Agora acrescento que Elena Ferrante sabe transformar sentimentos em palavras. E no fundo, não é exatamente isso que a literatura procura? Transformar sentimentos em palavras, escrever o amor, a dor, a angústia? Bem, Elena Ferrante fá-lo como ninguém.