Leibniz, matemático e filósofo, diz-nos, entre tantas outras coisas, que "o todo não é a soma das partes mas sim a sucessão, a integração mais a sua interação". Pegar nisto, na noção de limite e continuidade, na pirâmide de base infinita e transformar tudo em literatura (sobre literatura) é algo assombroso mas perfeitamente possível para Maria Manuel Viana.
Tal como, apesar de uma função não estar necessariamente definida num ponto o limite nesse ponto pode existir, assim todos os personagens deste livro convergem para o Escritor, para o Outro que, enquanto vivo, foi uma âncora na vida de todos estes personagens. Aqui conhecemos, através da sua convergência para este homem, Mariana, Ana Sofia, Ana Lúcia, João Caetano, a Velha Senhora, Ana B e Maria João, e conhecemos as suas perspectivas em relação ao Outro sem, no entanto, o conhecer verdadeiramente.
Depois de me ter sido repetidamente aconselhado pelos Rodistas, rendi-me à escrita desta escritora e a este livro de pouco mais de 150 páginas mas que é do melhor que já li. Sem me querer armar em pedante, tenho total noção que este livro não é para toda a gente, que nem todos os leitores estão interessados neste género de literatura mas tenho a certeza que faria bem a todos lê-lo, obrigar-se a pensar, a refletir nas questões que este livro nos põe. E não tenho dúvidas que cada leitor o lerá de forma diferente. Para mim este é um livro sobre possibilidades, sobre escolhas e consequências. Sobre o que somos, como nos vemos e como os outros nos vêem. Na diferença entre essas três perspectivas. E no esforço que fazemos para que essas perspectivas se aproximem ou se afastem. E no que o que somos e as escolhas que fazemos influenciam os outros, os que, de alguma forma, convergem para nós.