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Há livros que se entranham na pele, que nos apaixonam. Não precisam de estar bem escritos (mas é bom quando estão) nem de ter uma história para lá de espetacular (mas é fantástico quando têm). Só precisam ser o livro certo no momento certo.
E “Jonathan Strange & Sr Norrel” chegou à minha vida no momento certo. Eu sabia que tinha que o ler depois de ter visto este vídeo no canal Vevsvaladares. As expectativas (sacanas que nos estragam tantas leituras) foram devidamente refreadas pela Vera, pelo José e pelo Nuno que não ficaram fãs (meninos, temos que conversar!).
Em ficção habituamo-nos a conhecer novos mundos, admiramos universos construídos do zero onde os animais são parentes ou se queima metal. De Hogwarts a Mordor, do Império Final ao Inferno. Aqui, estamos em Inglaterra do séc. XIX e a História é a mesma que estudamos nos bancos da escola… bem, quase a mesma. Byron, Napoleão ou Wellington são tão reais quando Strange ou Norrel. É como jogar às diferenças: a mesma imagem mas não exatamente a mesma.
A mistura de fantasia e magia com realidade foi perfeita. Susanna Clarke quase me fez ir à biblioteca mais próxima à procura de um exemplar do livro “A História e Prática da Magia Inglesa”, escrito por Jonathan Strange e publicado por John Murray em 1816.
As referencias bibliográficas são maravilhosas... e fazem parte do livro. Aliás, as 189 notas de rodapé (algumas bastante extensas) são tão boas como o resto do livro. Confesso que houve alturas que li o resto do parágrafo antes de ir ler a nota de rodapé (ou li várias de seguida, quando eram pequenas) mas não saltei nem uma.
A História, contada em 3 livros (Livro I – O Sr. Norrel, Livro II - Jonathan Strange e Livro III – John Uskglass) tem ritmos bastante diferentes e acredito que desiluda quem começa a ler à espera de um "Harry Potter para adultos" como já ouvi por aí. O ritmo é, quase até ao fim, lento. Apesar disso (ou talvez por causa disso) é extremamente interessante. Mas o Livro III é de leitura compulsiva. Dei por mim a olhar para o ereader durante o trabalho à espera que chegasse a hora do almoço para me pisgar e ler mais umas páginas.
Li vários textos, entrevistas e opiniões sobre este livro e aprendi bastante. Para começar não fazia ideia do que era um Pastiche e falta-me o treino para reconhecer, sem ter sido alertada primeiro, as homenagens a Jane Auten, Charles Dickens ou a piscadela de olho a Shakespeare. Mas estando alerta, tudo isto se torna óbvio e a leitura fica (ainda) melhor. Por isso, se spoilers não é algo que vos incomode por aí além e se , como eu não percebem muito de teoria literária, leiam algumas coisas sobre este livro antes de o começarem a ler. A vossa leitura vai sair a ganhar.
Uma história muito interessante, personagens f-a-b-u-l-o-s-a-s (Norrel e Strange, são só o começo... ) fizeram deste um dos meus livros favoritos de todos os tempos.
E claro, há ainda a série da BBC. Quero muito. Infelizmente ainda não encontrei à venda (Questãozinha: se eu mandar vir a série da amazon inglesa, o DVD terá legendas em Português??? E sim, eu quero com legendas em Português, não quero perder nada).
Depois de ler o livro vejam também este video.