Personagem histórica envolta em lenda, a papisa Joana protagoniza a notável ascensão de uma mulher que não aceita as limitações que a sua época lhe impõe. Dotada de uma inteligência esclarecida e de uma imensa força de carácter, atinge o mais elevado grau da hierarquia religiosa católica. Apoiado numa investigação rigorosa, este é um romance magnífico, cativante, que prende o leitor nas complexidades da luta pelo poder, das conspirações e segredos políticos e dos fanatismos sangrentos. O livro que inspirou um grande filme épico realizado em 2010.
Comprei este livro na minha ronda pelos alfarrabistas e digo-vos: que boa escolha foi. Encarei-o de duas formas: uma puramente histórica (qual a veracidade, ou possível veracidade da existência de uma papisa?) e outra absolutamente lúdica.
A autora conta-nos a história de Joana, uma menina que tinha fome de saber e que teve o azar de nascer numa família disfuncional no séc.IX. Até para o séc. IX aquela família era descompensada, com um pai cónego, ruim como as cobras (quero acreditar que apesar da época havia homens um pouco mais “gente” e bondosos) e uma mãe pagã que lhe incute o respeito por outros deuses que não o do pai. Mateus, irmão mais velho de Joana, está destinado ao sacerdócio,a única via de educação e erudição da época. Joana sonha aprender a ler e o irmão, à revelia do pai, faz-lhe a vontade. Quando Mateus morre precocemente João, um outro irmão, é forçado a substitui-lo sem ter vontade ou talento para aprender.
Joana e João acabam por ter a oportunidade de ir estudar, mas o talento estava na criança com o sexo errado e, após algumas peripécias Joana acaba por assumir a identidade do irmão e passar a ser o “irmão João”. O talento, a vontade, a inteligência e a sorte fazem o resto e João é eleito Papa, por mérito próprio.
Como estória não há nada a apontar. Lê-se bem, é interessante e sem ser um livro memorável é bom q.b.
Agora a parte histórica, que é sem dúvida a parte mais interessante deste livro. Terá Joana existido? Será que na história do Cristianismo houve uma papisa? Como eu gostava que assim tivesse sido. Se o foi ou não, não sei, as “provas” que há são inconclusivas (quero com isto dizer que há historiadores que negam a sua existência e outros que a admitem) e Joana está mais para lenda que para personagem histórica.
Mas eu acredito que houve muitas Joanas ao longo da história, muitas mulheres que venceram como homens porque não tinham outra hipótese e tinham inteligência para tal.
Quão da nossa história terá sido escrita no feminino e não no masculino?