A amizade pode crescer no mais árido dos solos - mas talvez não de forma durável
Em Fevereiro de 2000, Richard Zimler foi à Austrália para participar no Encontro de Escritores de Perth. No dia da sua chegada, conheceu uma talentosa bailarina brasileira que lhe contou o muito que o seu romance O Último Cabalista de Lisboa tinha significado para ela. O trágico passo que ela daria no dia seguinte mudou para sempre a vida de Zimler, lançando-o numa intensa investigação de três anos sobre o passado dela.
O escritor descobre então uma infância vivida à sombra do Monte Carmelo na década de 1950, uma época de tolerância entre comunidades vizinhas de árabes e de judeus nos velhos bairros de Haifa. À medida que esta paz se vai fragilizando, duas raparigas - uma palestiniana, outra israelita - tecem entre si laços que as ligam para sempre. A demanda de Zimler desvenda a história desta amizade extraordinária, apesar de o conduzir através de uma teia de ilusão, crueldade e enganos e, finalmente, ao 11 de Setembro de 2001, quando a tragédia que testemunhou em Perth surge à luz do mais extremado contexto político.
À Procura de Sana apaga as fronteiras convencionais entre realidade e ficção, ao analisar a natureza da verdadeira amizade, e o germinar de um crime impensável. Escrito pelo autor de alguns best-sellers sobre a cultura e a história judaicas, é ao mesmo tempo uma emocionante digressão sobre questões que nos afectam a todos.
Desde que li o "Meia-noite ou o princípio do mundo" que fiquei fã deste escritor. Pela sua simplicidade, pela beleza das histórias e da forma como comunica connosco sem grandes floreados. Desta vez aproveitei a feira do livro de Lisboa para comprar em 2ª mão e baratinho este "À procura de Sana". Pela sinopse percebi ser completamente diferente do "Meia-noite ou o princípio do mundo" ou do livro de contos "Confundir a cidade com o mar".
Zimler conhece, quando está na Austrália num encontro literário, uma mulher que o fascina pelo silêncio, pela mímica, pela solidão, pelo mistério. Quando ela o aborda para lhe pedir um autógrafo e lhe confessa a importância que o livro "O último cabalista de Lisboa" teve na sua vida consegue a sua atenção. No dia seguinte esta mulher, uma bailarina, suicida-se à sua frente. Um ano depois o livro que Zimler autografou aparece nas mãos de Helena e Zimler mergulha numa investigação surpreendente à procura de Sana.
Contada na primeira pessoa esta história que não é uma mera investigação impessoal mas que mistura pormenores da vida do autor com a vida destas personagens (se são reais ou fictícias parece-me ser irrelevante para a minha opinião sobre o livro) e que retrata a vida e a relação entre Israelitas e Palestinianos de uma forma diferente da que nos habituámos a ver nas televisões.
Gostei imenso deste livro que me fez ter vontade de ler imediatamente todos os outros livros do escritor (estou neste momento a meio do "último cabalista de Lisboa" que num registo completamente diferente deste me está a conquistar).
Não estou a escrever esta opiniões imediatamente depois de ter lido o livro (nas férias só li, não escrevi) mas, para além da história, uma das coisas que retive do livro foi (não tenho neste momento acesso ao livro, pelo que escrevo de memória) :
"Os judeus recusaram-se a ser as eternas vitimas e começaram a ripostar e por isso nunca serão perdoados."
Mais do que história em si (interessante e bem contada) este livro vale pelas questões que levanta e que nos fazem pensar.