Há muito tempo que não me era tão difícil ler um livro.
Já li quase todos os livros de JRS e a minha opinião tem sido pior a cada livro novo (com excepção do “A ilha das Trevas”, que li há ouço tempo, mas que é o primeiro dos livros deste escritor). A qualidade decai cada vez mais até se tornar quase insuportável. Admito que este escritor é um óptimo investigador e que isso transparece nos seus livros. E essa é a parte interessante da sua escrita.
Sempre que tenta dar um cunho pessoal a alguma personagem espalha-se ao comprido. O Tomás Noronha é completamente inverosímil e só quem tem a felicidade de nunca ter conhecido ninguém com Alzheimer consegue “acreditar” na relação dele com mãe. Não sei se é desleixo ou falta de capacidade para nos transmitir a importância das coisas mas a verdade é que não me convence.
Este Anjo Branco está cheio de cenas ridículas que destroem completamente a facilidade de leitura. Sempre que estou a começar a achar uma parte do livro interessante (devido à tal parte histórica – investigação - de que falei antes) aparece uma cena baseado no “tamanho” do pirilau (estou a tentar pouco brejeira, coisa que NÃO acontece no livro) do personagem principal. Considerando que o personagem principal é baseado no pai do escritor a coisa parece-me de mau tom.
O livro tem pormenores interessantes: a ida da família Branco à grande exposição, a parte de África enfim, a ligação da parte ficcionada à realidade. Acredito que parte da vida do médico será real. Não acredito que ninguém seja assim tão bonzinho ou inocente, mas compreendo que um filho (ou um escritor relativamente a uma personagem) seja parcial.
No final o livro tornou-se um pouco mais suportável, até porque a história passa a focar-se mais na parte histórica da guerra do ultramar e no papel dos portugueses do que na relação pessoal do Dr. José Branco com as restantes personagens.
No entanto, também aqui fica a faltar muita coisa.
***Spoiler Alert--- que ainda não leu o livro não continue a ler, ok?****
Ok, o grande clímax pretende ser o massacre e a coragem do médico na denúncia. Mas, e apesar da parte do massacre ser triste, pareceu-me muito pouco explorada. A imaginação faz muito mas o livro só teria a ganhar com uma análise mais séria e completa ao que aconteceu. Pareceu-me muito leve considerando a enormidade do que aconteceu.
Seria interessante explorar o que aconteceu ao médico enquanto este à “guarda” da PIDE e dizer que o pai nunca falou sobre o assunto não chega. Então tenta vender a história do pai mas não a conhece?
Ok, eu compreendo que, perante uma situação complicada como a que aconteceu, o par de cornos que o senhor pôs à mulher perdia a importância, mas o assunto pareceu ter ficado aberto. E o final da Sheila e do Diogo?
Foi um final do género: ah e tal houve o massacre e depois aconteceu isto e isto e mais isto e já está.
Resumindo: Lê-se mas não gostei.