Sinopse
Nas noites trágicas, geladas, visitadas pelo espectro da fome e arquejantes, sacudidas pela violência da tuberculose, Frank conhece, na intimidade, a impiedade da miséria. Cresce nos bairros pobres, apinhados, de Limerick, na Irlanda dos anos 40, exangue pela guerra civil, carente de sustento material e intelectual; cresce à mercê da crueldade, da insensatez, do adormecimento negligente que transforma cada dia de um quotidiano dramático numa cruzada contra a morte. Frank McCourt revisita a criança que foi com uma vitalidade contangiante, e a sua voz lírica, plena de uma energia rara, de musicalidade, de humor, profere as suas memórias numa prosa impetuosa, pictórica, sagaz, com a graça narrativa dos grandes romances. Uma obra que comove e deslumbra pela sua beleza, pela sensibilidade que supera o sofrimento e o rancor e torna-se matéria-prima de uma narrativa sobre o amor e o crescimento. "Prémio Pulitzer" de 1997.
Tenho alguma dificuldade em escrever algo sobre este livro. Não há nada que possa ser dito que se aproxime, nem que seja um bocadinho, do que é este livro. Segundo a C. (mais uma vez obrigada por me teres emprestado este livrito, adorei) ao lê-lo, sente-se o “cheiro a bolor e os ossos geladinhos”. Eu acrescento que, para mim, este livro tem cor, é um livro escrito a sépia, em tons de castanho. É muito gráfico. Lendo vejo imagens.
É dos livros mais tristes que já li.
Frank McCourt conta-nos, na primeira pessoa, o que foi ser criança e miserável na Irlanda dos anos 40. Filho de pai alcoólico e mãe, no mínimo, negligente, é o mais velho de vários irmãos (alguns acabam por não sobreviver a tanta miséria) e tem por principal obrigação sobreviver, o que implica muitas vezes arranjar comida para si e para os irmãos.
Numa Irlanda ainda à sombra da guerra com os Ingleses, extremamente religiosa (e com as consequentes “birras” entre católicos e protestantes), onde a solidariedade não existe, onde a diferença de classes é intransponível, um menino que gosta de ler e tem o azar de não ter nada nem ninguém que cuide dele cresce como pode, com pouca comida, com pouca roupa, com menos afecto ainda, com o medo de ir para o inferno (a noção de pecado é impressionante neste livro) e é por si próprio que encontra o caminho para fora dali, daquela vida.
Este é um livro que nos envergonha do ser humano e nos faz sentir orgulho de algumas pessoas.