16
Mar10
A Alma Trocada, de Rosa Lobato Faria
Patrícia
É um lugar comum dizer-se que determinada orientação sexual não é uma escolha, porque, se fosse, ninguém escolheria o caminho mais difícil. Foi esse caminho mais difícil que Teófilo teve de percorrer, desde a incompatibilidade com os pais, aos desencontros dentro de si próprio, chegando mesmo a acreditar que alguém lhe tinha trocado a alma...
Depois de ter lido e gostado do livro “As esquinas do tempo” de Rosa Lobato faria resolvi comprar este “A Alma trocada” e mais uma vez deliciei-me com a forma de escrever desta escritora.
A história deste livro gira em torno de Téo e da sua busca por si mesmo. Téo sempre achou que tinha a alma trocada. A dificuldade em lidar com a homossexualidade reforça essa convicção. Téo estava de casamento marcado (ou devo dizer “arranjado”? ) com Raquel quando conhece Hugo. A relação dos dois pautada pela calma e pela serenidade ajuda a que Téu tenha a coragem de mudar de vida e assumir-se de uma vez. Com esta decisão não perde só a noiva. Perde os pais. Mas ganha muito mais. Tendo uma avó no Alentejo é para lá que vai quando precisa descansar, esquecer-se da vida e do mundo e encontrar um turbilhão chamado Tinito. E mais não conto.
A história deste livro poderia ser pesada, triste mas não é. Poderia ser uma história de vingança (e há vingança neste livro), de ódio (que também há), de crime mas não é.
A simplicidade com que a história é contada (na primeira pessoa) faz toda a diferença. É um livro dos sabores do Alentejo que eu tanto gosto. Um livro cheio de palavras, de cheiros que nos fazem sentir que não estamos aqui, mas lá, numa Alentejo profundo. Um livro de toques, de sentimentos. E depois disto tudo a história é (quase) secundária.