Hoje a vida é discreta e não contínua
Gosto do silêncio cansado de dia 1 de Janeiro. Gosto da promessa de recomeço mesmo que saibamos que a vida não é discreta mas contínua.
No primeiro dia do ano gosto de acordar cedo e ficar a curtir o silêncio, gosto de me enroscar nele e sentir-lhe a respiração pausada e o braço que, de forma inconsciente, me puxa para o calor do seu corpo. Gosto de me levantar primeiro que todos e ir à janela. Gosto de sentir o frio de Janeiro na cara enquanto bebo um café.
Gosto começar o ano com flores em casa. Gosto do silêncio deste dia. Gosto de saber que não preciso sair de casa, que posso deixar a vida lá fora mais umas horas e não me preocupar com isso.
Gosto de agendas novas. Este ano optei por uma agenda "escolar" porque gosto do mês de Setembro e do início de uma nova etapa. Por isso este ano não vou ter uma agenda nova no dia 1 de Janeiro e tento convencer-me que a continuidade é também uma coisa boa.
Não me apetece continuar a desejar "bom ano", acho que esgotei os "bom ano" que existiam em mim. O ano começou e será aquilo que cada um de nós fizer dele. Ou aquilo que a sorte e o acaso quiserem que seja. Não interessa, este ano continuarei a viver um dia de cada vez. A inevitabilidade tem-me caído em cima com demasiada regularidade.
Gosto de passar a tarde do primeiro dia do ano a ler e a dormir. Espero passar a tarde do primeiro dia do ano a ler e a dormir e continuar em silêncio. Gosto do silêncio acompanhado, que é aquele que tenho. Há silêncios que fazem doer a alma mas há aqueles que a aconchegam e é desses que este dia é feito.
Não houve passas, não houve desejos à meia-noite. Essa tradição sempre me pareceu tola. Até porque não gosto de passas e começar o ano a comer algo de que não gosto só porque alguém que gosta de passas decidiu que era tradição sempre me pareceu ... parvo. Por isso passei o Ano num abraço apertado, a ver fogos a encher o céu de cores (gostei da forma como, pelo menos por aqui, o fogo de artifício foi a forma como muitos decidiram ripostar e fazer um enorme #fuck2020) enquanto, na TV, o Drácula de Bram Stoker estava em pausa.
A ler: Rhythm of War, de Brandon Sanderson (11%)