Ao sétimo dia descansou
O que fazer nas noites de insónia? Enrolo-me, viro-me e reviro-me e quanto mais tento adormecer (eu preciso dormir, todos precisamos dormir) menos sono tenho. Passo horas acordada durante a noite. Mas não é um acordar saudável, energético. É um acordar letárgico, cansado, dorido. Os pensamentos não páram, revoltam-se, massacram-me. Às vezes consigo desistir e pegar num livro, que é como quem diz "no Kobo" que dá muito mais jeito. A leitura do Pátria tem sido assim. Uma, duas horas durante a noite. Talvez seja a forma certa de ler aquele livro, não sei, é um livro triste, real, cheio de dor. Um história que já é história, contemporânea para a minha geração que cresceu a ouvir falar da ETA (Euskadi Ta Askatasuna), dos atentados da ETA, dessa luta armada que fez vitimas, que destruiu famílias, amizades, gentes.
Imagine there's no countries
It isn't hard to do Nothing to kill or die for And no religion, too*Leio de coração apertado a história de duas famílias, nesta intrincada dança de tristezas. Uma que se senta na pedra mármore de uma campa do cemitério a contar as minudências do dia a dia ao amor da sua vida. Outra que tomou para si as certezas de um filho revolucionário, que fez das certezas dele as suas certezas. Mulheres que por amor erram muito, afastam quem deveriam abraçar e que parecem estar, a maior parte do tempo, com o coração fora do corpo. Fernando Arambuco conta muito bem esta dicotomia, esta falha, que dividiu Espanha tanto tempo. Um grande livro, este.
Em áudio vou conhecendo Daisy Jones and the Six, de Taylor Jenkins Reid, e a 2h30 do fim estou a gostar bastante. Não devo ver a série tão cedo (não subscrevo a plataforma em que está a passar) mas tenho alguma curiosidade.
Já a vida não corre tão tão bem como o livros e as leituras e olhar o mundo em 2023 é assustador. Não só pelo que vemos mas também pelo que não vemos. A vida corre tão rápido que quase nem perdemos tempo a sentir a desumanização progressiva da humanidade.
Imagine there's no heaven
It's easy if you try No hell below us Above us, only sky*
*imagine, John Lennon