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Ler por aí

Ler por aí

30
Abr25

Kairos, de Jenny Erpenbeck

Patrícia

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Jenny Erpenbeck leva-nos até à RDA antes da queda do muro de Berlin, para acompanharmos a relação entre Hans e Katharina.

Em 1986, quando se conhecem por acaso, Katharina é uma miúda de 19 anos e Hans um homem de 53. Uma relação que nasce desigual, uma dependência que roça o amor mas que mergulha na obcessão, no ciúme doentio, na manipulação. 

A literatura usa o particular para nos mostrar o global e é esse particular, essas tragédias individuais na relação de Hans e Katharina que vão sendo exploradas para, em pano de fundo, olharmos a revolução, os acontecimentos que levaram à queda do muro, a liberdade (É isto a liberdade?). Mas o pano de fundo não pode ser mais interessante que a história principal, digamos que nem só de paralelismos vive a literatura.

E a verdade é que eu estava já muito cansada de Hans (que ódio, senhores, que ódio) e de Katharina. E mesmo aquele final (podeis chamar-me "pedantezinha") é tudo menos surpreendente. Quanto muito é a confirmação de tudo quanto lemos ao longo das páginas. 

Falta-me conhecimento de arte, música para entender muito do que se passa nas páginas destes livro. E paciência, vontade e tempo para parar a cada página para ir procurar referências, ouvir música, deixá-la entranhar-se em mim, ler livros e peças de teatro para compreender, sentir cada referência que aqui existe. Resumindo sou demasiado ignorante para este livro, essa é que a verdade, não vale a pena fingir.

Relendo o que escrevi parece que nada de positivo encontrei neste livro mas não é verdade. A escrita desta escritora (aquilo que me fará procurar outros livros dela, mesmo sabendo que me vou sentir muito burra) é maravilhosa. Exigente, sim, difícil, pede tempo (tive que reler tantas vezes algumas passagens) mas maravilhosa. Há passagens absolutamente deslumbrantes aqui. Deixo-vos a passagem, logo nas primeiras páginas, que me encantou e a que voltei uma e outra e outra vez ao longo da leitura:

Numa mala assim, numa caixa assim, o fim, o princípio e o meio jazem juntos, indiferentes, no pó dos decénios, jaz o que foi escrito para enganar e o que foi pensado como verdade, o que se silenciou e o que se contou, tudo isso, queira ou não queira, jaz estreitamente imbricado, jazem as contradições, a raiva emudecida e o amor emudecido jazem juntos num envelope, numa e na mesma pasta, o que se esqueceu está exactamente tão amarelecido e amarrotado como aquilo que, vaga ou distintamente, se recorda.”

23
Abr25

Dia Mundial do Livro

Patrícia

Uma das perguntas que fiz aos meus amigos e colegas hoje foi "e vocês, que têm crias, que livros lhes deram hoje, no dia Mundial do Livro?"

Ofereçam livros às crianças, leiam com elas ou levem-nas às bibliotecas (há imensas actividades giras e de borla nas bibliotecas, não há desculpas). Por elas, pelo futuro delas.

E como vim de fugida marcar a efeméride deixo-vos um artigo, que li hoje cedo, e que me pôr a pensar: quem tem medo das bibliotecas ?, por Eduardo Santos

"Permitir que as editoras determinem o que pode ou não constar nos catálogos digitais das bibliotecas é abdicar de um direito coletivo em favor de interesses privados. A missão das bibliotecas é garantir o acesso livre, universal e informado ao conhecimento, à cultura e à leitura. Isso implica poder disponibilizar os livros mais relevantes, inclusive os mais vendidos e populares, respeitando os seus orçamentos e os critérios técnicos dos seus profissionais"

 

 

13
Abr25

Trilogia de Copenhaga, de Tove Ditlevsen

Patrícia

Captura de ecrã 2025-04-13 111015.png 

Depois de ter ligo o livro Os rostos sabia que queria ler mais de Tove Ditlevsen. E depois de ter lido este "A trilogia de Copenhaga"  ainda gosto mais de "Os rostos", especialmente porque lhe reconheço uma maior verdade que, não sendo importante para a leitura, lhe dá uma outra dimensão.

Estes 3 livros, Infância, Juventude e Relações tóxicas, são baseados na vida da escritora (não sei se deveremos chamar-lhe autobiografia, memórias ou autoficção, como está na moda). É sempre interessante perceber como cada um se vê e digamos que Tove não é meiga consigo mesma ou com os outros. De uma sinceridade por vezes brutal conduz-nos pela sua vida, da infância à idade adulta, de quando "me vão chegar a roupa ao pelo porque sou muito estranha. Sou estranha porque leio livros" até ser reconhecida como escritora e se afundar na dependência de drogas.

Usei a expressão "ser reconhecida como escritora" porque uma das coisas que fica muito clara é que Tove era escritora muito antes de ser publicada, se calhar antes até de saber ler. Ela era a poesia, a literatura, as palavras. Ser escritora não foi uma escolha consciente. Não foi sequer uma escolha.

Tal como se tornar dependente de drogas foi uma inevitabilidade, não uma escolha. A autora não arranja desculpas e de uma forma brutal, seca e quase despojada de emoções faz-nos entrar na sua vida, na sua relação (sempre tensa) com os outros e com as drogas.

 

05
Abr25

Biblioled - uma biblioteca online

Patrícia

Ando há que tempos para vos perguntar se já conhecem a BiblioLed, a biblioteca online

Sim, já se pode requisitar ebooks (e audiobooks) nas bibliotecas. O processo é relativamente simples. 

Em primeiro lugar têm que estar inscritos numa biblioteca/ rede de bibliotecas.

No meu caso, estou inscrita nas rede de bibliotecas da Área Metropolita de Lisboa pelo que o "meu" site da biblioled é https://aml.biblioled.gov.pt/

Depois de terem conta podem requisitar ebooks e audiobooks, se o livro que querem não está disponível, podem fazer uma reserva e o livro ser-vos-á entregue na data e hora indicada aquando da requisição (ou antes, se ficar disponível).

O catálogo dos ebooks é bastante simpático. O dos audiobooks bastante fraquinho. De qualquer das formas lembrem-se que quanto maior a utilização da biblioteca mais provável é que haja investimento neste tipo de biblioteca e que podemos sempre fazer sugestões para mais livros seja adquiridos. 

Para já estou bastante feliz com esta nova forma de nas bibliotecas nacionais, vejo-lhe potencial na criação de leitores uma óptima ajuda para nós, leitores habituais. 

Falemos da forma como o livro vos é entregue.

Eu leio ebooks no ereader e oiço audiobooks no telemóvel e é nestes dois dispositivos que quero que os livros me sejam entregues.

no telemóvel

Basta instalar oa app BiblioLed, entrar e voilá, temos acesso aos ebooks, audiobooks e todas as informações necessárias, incluindo as nossas reservas.

no ereader

É necessário um ereader com o DRM da Adobe ou com o Thorium Reader (software livre de download gratuito). Eu tenho um kobo e uso o ID da Adobe há muito tempo (é só criar uma conta e autorizar o dispositivo) pelo que não tive que fazer mais nada. Escuso de vos dizer para usarem o mesmo email em todo o lado, certo?

Sejam simpáticos

E assim que terminarem de ler um livro, devolvam-no. Há quem o tenha reservado.

e por falar em reservas

Sim, podemos reservar 2 ebooks e 1 audiobooks para além dos 2 ebooks e 1 audiobook que requisitámos mas vamos mesmo ter tempo para ler esses livros todos? Não se esqueçam de que os ebooks funcionam como os livros físicos, só 1 pessoa o pode ler de casa vez.

as devoluções

Não se esqueçam de devolver o ebook/audiobook assim que o acabarem de ler. Pode haver quem esteja à espera que fique disponível.

 

 

 

 

03
Abr25

A roda dos livros mudou de casa

Patrícia

Hoje venho partilhar convosco um bocadinho da Roda dos Livros, o grupo de leitura que faz parte da minha vida deste 2012 e que é um misto de grupo de amigos, de "raisparta que a lista de livros que quero ler continua a aumentar", de aprendizagem e de terapia. Todos os meses nos reunimos e partilhamos as leituras que fizemos deste o último encontro em que participámos. Somos ligeiramente caóticos nas acho que essa é a nossa maior qualidade. Não temos leituras obrigatórias mas sugerimos veementemente que aquele livro seja lido. Partilhamos sempre as pilhas de sugestões, com os livros de que gostámos, e brincamos dizendo que um dia partilhamos a pilha dos que não gostámos, que não vamos dizer qual é qual, porque vão ter muitos livros em comum. Afinal , é porque temos diferentes gostos e opiniões que o mundo não tomba.

O blog da Roda esteve durante muito tempo no wordpress mas resolvemos trazê-lo para o Sapo porque lhe queremos dar uma vida nova e o Sapo é a melhor plataforma a gerir os blogs. Aliás, se não fosse a equipa do Sapo não teríamos conseguido fazer esta migração. Um "muito obrigada" pelo tempo de perderam connosco, a vossa ajuda foi fundamental :).

No blog podem encontrar textos de opinião ou de sugestões. Por vezes para um livro, há várias opiniões porque vários membros da roda o leram. O nosso objectivo é regressar a este registo, um post sobre o encontro mensal com a lista de sugestões e outros de opinião, seja sobre livros, seja sobre outros temas relacionados com a literatura.

Aqui fica o primeiro post:  A primeira pilha de livros na nova casa. Vão lá dar uma olhadela.

20
Mar25

O meu nome é Lucy Barton, de Elizabeth Strout

Patrícia

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Esta é um bocadinho da história de Lucy, contada na primeira pessoa. Não é daqueles livros onde se sente a crueza da memória ou a implacabilidade da verdade. Acho que se sente exactamente o que Strout nos quis passar:  a história de uma escritora a procurar-se, com a honestidade possível. Sob uma capa de leveza e beleza, a escritora (a Lucy, não a Strout) mostra-nos uma mulher marcada por uma vida de solidão e abandono e faz-nos ficar de coração apertado ao longo da leitura. E ainda assim, este é um livro que nos deixa de bem com a vida.

Mas talvez me esteja a adiantar. Lucy está confinada ao hospital, após uma operação que não correu bem, a ver a vida dos outros a passar. Quando a mãe, com quem não tem grande ligação há anos, vem passar 5 dias com ela, Lucy é obrigada a pensar no seu passado de pobreza material e, acima de tudo, emocional. 

Nestas páginas fala-se sobretudo de solidão. As relações neste livros (seja entre Lucy e a mãe, Lucy e as filhas ou Lucy e William) são sempre marcadas pela solidão. Lucy não se  tenta mostrar como a mulher perfeita e essa vulnerabilidade é a sua enorme força. Sem escamotear a falta de amor e de cuidado que marcou a sua infância e juventude, esta é a luta de uma mulher para aprender a amar e a relacionar-se com os outros.

Este não é um livro com uma história linear ou sequer com uma história com princípio, meio e fim. É um livro cheio de episódios, mais ou menos pitorescos, que nos vão dando a conhecer a pessoa que está a escrever a história, tanto pelo que diz como pelo que cala. 

Não sei quando (ou sequer se) vou ler os outros livros da série mas é uma boa opção para uma leitura rápida num fim de semana. No geral, gostei bastante deste livros e da Lucy Barton.

 

18
Mar25

Shantaram, de Gregory David Roberts

Patrícia

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Uma das coisas que me enerva solenemente é quando me vendem gato por lebre. E venderem este livro como uma espécie de autobiografia é só publicidade enganosa. Apesar do autor repetir que isto é um romance e que as personagens não são reais (e sim, há factos reais aqui, como a sua fuga da prisão e a sua relação com as drogas) há esta vontade de que os acontecimentos aqui retratados sejam reais e isso é repetido até à exaustão. Eu compreendo a atracção, afinal fazer as coisas erradas pelo motivo certo dá um excelente mote para um livro ou um filme. Infelizmente é ligeiramente diferente na vida real e a romantização do crime nunca me convenceu. O gangster filósofo até teve a sua piada, mas não foi que me convenceu a ler um livro interminável com algumas partes chatas.

Não foi a história de Lin que me atraiu. Honestamente não consegui acreditar em quase nada daquilo e, como tal, interessou-me pouco o desfecho da coisa.

O que me agradou neste livro e a razão pela qual posso dizer que gostei foi a forma como o autor contou a Índia. O amor do escritor pelo país e pelos seus habitantes está espelhado em cada página deste livro e este livro vale por isso. Eu não quero saber se Prabhakar é real ou não, só sei que é maravilhoso. Assim como alguns dos “amigos” de Lin.

Este não será um romance de personagem, mas foram as personagens que me atraíram e convenceram porque a história, francamente, cansou-me.

11
Mar25

um grão de areia de poder

Patrícia

Ando doente com o que se passa nos Estados Unidos em particular e no mundo em geral. Tenho a sensação (na verdade tenho a convicção) que estamos a assistir ao nascimento de uma ditadura (ou autocracia como agora se diz) e, claro, as perseguições a grupos minoritários ou teoricamente mais fracos estão na ordem do dia. E é tempo da Europa se impor e não depender tanto do outro lado do atlântico. Já se percebeu que não podemos confiar. E a Europa somos nós. A responsabilidade é nossa.

Enquanto mulher, espero que tenhamos a união necessária para enfrentar o que por aí vem, que não nos esqueçamos que temos o poder para parar esta gente. E sinto a responsabilidade de fazer a minha parte. Para começar decidi que iria deixar de dar poder a quem defende tudo aquilo que eu abomino. Uma das coisas que já fiz foi apagar o Instagram. E comecei a informar a minha gente que iria sair do Whatsapp e substituí-lo por outra app de mensagens (e há sempre o telefone e as sms). O deadline, imposto por razões familiares, é no próximo fim de semana mas tirei todas notificações, pus o icon da app numa página não imediatamente visível do telefone e só lá vou uma ou duas vezes por dia. Deixei de interagir em quase todos os grupos e no fim de semana, "adiós whatsapp, fomos muito felizes juntos mas passaste para o lado negro da força". Esta minha atitude não foi percebida por todos mas tive algumas boas surpresas - até de quem não esperava. 

Mas não são apenas as redes sociais aquilo que quero mudar. Não tenho Teslas (aliás, não consigo achar piada a esses carros) mas há imensas coisas americanas que consumo e que estou paulatinamente a substituir.

O site https://www.escolho.eu/ veio dar uma ajuda. Nasceu há poucos dias e ainda está em construção, todos podem contribuir com sugestões. 

Uma das coisas que mais tenho ouvido é "mas achas mesmo que isso serve de alguma coisa? que TU saíres vai causar alguma mossa?" e a minha resposta é apenas uma "É um grão de areia de poder a menos, eu sei, mas durmo melhor assim. Não posso ficar muito indignada com o que se está a passar e não fazer nada. Até porque eu não estou indignada. Eu estou mesmo f****a e recuso cruzar os braços".

 

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