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Ler por aí

Ler por aí

12
Mar23

Ao sétimo dia descansou

Patrícia

O que fazer nas noites de insónia? Enrolo-me, viro-me e reviro-me e quanto mais tento adormecer (eu preciso dormir, todos precisamos dormir) menos sono tenho. Passo horas acordada durante a noite. Mas não é um acordar saudável, energético. É um acordar letárgico, cansado, dorido. Os pensamentos não páram, revoltam-se, massacram-me. Às vezes consigo desistir e pegar num livro, que é como quem diz "no Kobo" que dá muito mais jeito. A leitura do Pátria tem sido assim. Uma, duas horas durante a noite. Talvez seja a forma certa de ler aquele livro, não sei, é um livro triste, real, cheio de dor. Um história que já é história, contemporânea para a minha geração que cresceu a ouvir falar da ETA (Euskadi Ta Askatasuna), dos atentados da ETA, dessa luta armada que fez vitimas, que destruiu famílias, amizades, gentes.

Imagine there's no countriesIt isn't hard to doNothing to kill or die forAnd no religion, too*

Leio de coração apertado a história de duas famílias, nesta intrincada dança de tristezas. Uma que se senta na pedra mármore de uma campa do cemitério a contar as minudências do dia a dia ao amor da sua vida. Outra que tomou para si as certezas de um filho revolucionário, que fez das certezas dele as suas certezas. Mulheres que por amor erram muito, afastam quem deveriam abraçar e que parecem estar, a maior parte do tempo, com o coração fora do corpo. Fernando Arambuco conta muito bem esta dicotomia, esta falha, que dividiu Espanha tanto tempo. Um grande livro, este.

Em áudio vou conhecendo Daisy Jones and the Six, de Taylor Jenkins Reid, e a 2h30 do fim estou a gostar bastante.  Não devo ver a série tão cedo (não subscrevo a plataforma em que está a passar) mas tenho alguma curiosidade.

Já a vida não corre tão tão bem como o livros e as leituras e olhar o mundo em 2023 é assustador. Não só pelo que vemos mas também pelo que não vemos. A vida corre tão rápido que quase nem perdemos tempo a sentir a desumanização progressiva da humanidade. 

Imagine there's no heavenIt's easy if you tryNo hell below usAbove us, only sky*

 

*imagine, John Lennon

 

26
Fev23

em jeito de partilha...

Patrícia

Há um vazio estranho neste blog que, durante anos, viveu da minha opinião dos livros que eu ia lendo. Não foi apenas a falta de vontade de estruturar uma opinião, foi o perceber que já não me apetecia escrever sem o fazer. Comecei a achar vazio o exercício de escrever sobre um livro que acabei de ler sem spoilers. Não tendo qualquer vontade de vender livros, sem laços que me atem a uma qualquer obrigação (bem haja a minha teimosia de nunca ter querido nem procurado qualquer género de parceria com editoras ou escritores - que me desculpem o silêncio os que me querem enviar livros), deixei de me preocupar com a partilha do que ando a ler, voltei ao caderninho como registo e quando me apetece escrevo uma ou duas frases mais genéricas, partilho nas redes sociais uma ou outra foto e não faço mais que isso. Às vezes apetece-me discutir um ou outro aspecto de um livro - ou um tema que me desperta a atenção - mas sei que a maioria das pessoas procura os blogs antes da leitura de um livro e não depois, pelo que me censuro e opto por não o fazer em forma de post. Por outro lado apetece-me falar de outras coisas e é isso que acabo por fazer. No meu jeito tortuoso raramente escrevo directamente sobre o que me consome na altura mas já partilhei mais sobre mim nos últimos meses que em anos de blog (lembro-me de uma vez me terem pedido para participar numa tag qualquer e se terem queixado que não conseguiam descobrir nada sobre mim "extra livros" através do blog - fiquei contente porque sempre foi esse o meu objectivo). 

Mas continuo a ler. Aliás, acho que ultimamente até tenho lido mais. Li o Histórias Bizarras da Olga Tokarczuk, um livro de contos que adorei e que merecia ser discutido e dissecado conto a conto. Li o Cidade da lua Crescente da Sarah J. Maas que me foi oferecido por quem sabe que eu adoro fantasia e que, apesar de nunca ter lido um livro deste género na vida, faz questão de me oferecer fantasia - e isso é uma prova de amor. Li o A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery de que não fiquei fã. Ando a ler o Pátria, do Fernando Arambuco, que é um livro do caraças e do qual provavelmente me vão ouvir falar muitas vezes porque é impossível que não entre directamente para a lista dos "livros da vida". Depois de uns tempos a pôr em dia os podcasts de que gosto (e que têm o dom de aumentar a lista de livros que quero ler) regressei aos audiobooks com o maravilhoso, incontornável, imperdível Born a Crime, do Trevor Noah. E digo-vos que ouvir este livro é a forma certa de o ler. Maravilhoso, divertido, sensível, tristíssimo, capaz de nos tirar e depois devolver a fé na humanidade. 

19
Fev23

Para que servem os livros?

Patrícia

Obviamente para enfeitar a casa. Sim, sou dessas. Uma boa estante cheia de livros é algo que tem mesmo que constar da decoração da casa. Há livros lindos que merecem destaque e devem mesmo ser ostensivamente mostrados. 

Mas a verdadeira função dos livros é ajudar-nos a fugir. Podem imaginar um livro como a derradeira agência de viagem que nos ajuda a chegar a uma praia paradisíaca por tuta e meia ou como quem pega na pá para escavar o buraco que leva à liberdade. Acho que a escolha vai depender se apenas precisam de umas férias ou de fugir a sério da vossa vida.

Eu, que me sinto em IF todos os dias, tenho nos livros o meu Abade Faria. E se não percebem a referência, shame on you, é apenas de um dos melhores livros alguma vez escritos.

Talvez goste tanto de ler porque consigo, sempre consegui, deixar-me transportar para dentro das histórias. E talvez por isso goste tanto de fantasia e de uma história bem contada. Se é para fugir, que seja para um sítio que vale a pena, que viva vidas extraordinárias, que me torne amiga de seres fantásticos e que acredite no inacreditável.

Toda a gente pode não gostar de fantasia. Mas nunca compreenderei quem não gosta de fantasia porque os livros deste género estão pejados de seres que não existem. Há lá coisa melhor que ultrapassar os limites da imaginação e mergulhar na magia? Qual é o gozo de ler um livro que não nos transporta para outra realidade, outra vida? Toda a ficção faz isso, este género apenas dá uma roupagem diferente à realidade (porque todos os bons livros do fantástico ou da FC, tal como de qualquer outro género, reflectem e tratam sobretudo da realidade, dos problemas e questões do que nos rodeia).

Esta função de desencarcerador dos livros já me salvou, se não a vida, a saúde mental várias vezes. Fê-lo ao longo de toda a minha infância e adolescência, fá-lo hoje, a cada dia. Devo o meu equilibrio aos livros mais do que a qualquer pessoa. São e serão sempre a minha âncora. 

01
Fev23

ler mulheres, eis a questão

Patrícia

Ando a pensar neste post há alguns dias, já tive algumas coisas escritas mas acabei por apagá-las porque já sei que vai ser polémico. Ou melhor, que seria polémico em qualquer outra plataforma que não esta. Os blogs são, neste momento, a rede social mais pacífica e educada que existe. E talvez seja essa (falta de) exposição que cada mais me agrada.

Um amigo meu diz sempre, só para me irritar, que "não lê mulheres". Na verdade, esta frase é uma velha piada nossa porque ele já sabe que "afino" sempre e lhe sugiro uma resma de livros, escritos por mulheres, que, invariavelmente, ele não vai ler. Estou a ser injusta, consegui pô-lo a ler Chimamanda (esta vale por muitas, certo?). Outra vez, num encontro com um escritor, perguntei-lhe (depois de ele responder apenas com nomes de escritores homens à pergunta "que autores sugere?") "e autoras mulheres, quem sugere?" e a resposta foi uma qualquer variação de "não leio mulheres". A este fiz um risquinho mental e decidi nunca mais ler um livro dele (sim, tenho ódiozinhos de estimação). Agora ando a ouvir o podcast "Vale a pena" da Mariana Alvim e, talvez por estar a ouvir vários episódios de uma assentada, é impossível não perceber que o homens que lá vão raramente sugerem livros de autoras mulheres. 

Calma, não são todos, nem sempre, mas é claramente uma tendência. E na verdade nem acho que seja consciente. Não acho que os homens leiam maioritariamente livros de homens por não quererem livros de mulheres. Mas acho que as mulheres são muito menos preconceituosas nas leituras. 

Acho que nesta altura devo reforçar que odeio, abomino, a terminologia "literatura feminina". Pode haver (e há) literatura "feminista" mas este conceito de "literatura feminina" é associado, por mulheres e homens, a literatura de menor qualidade e até é considerada (geralmente por mulheres) como um "guilty plesure", algo que se aprecia com uma certa vergonha por, lá está, ser de baixa qualidade literária. Eu, por mim, acho que há bons e maus livros mas que associar algum tipo de livro a um género é só parvo. 

O que eu vejo, no meu grupo de amigos "dos livros", é que cada vez mais, mulheres e homens, fazem um esforço consciente para ler mais mulheres porque se aperceberam de um desequilíbrio nos géneros dos autores dos livros que liam. Esse esforço consciente rapidamente se tornou norma e, no meu caso, deu-me a conhecer todo um mundo de novas autoras que me ajudam a construir enquanto leitora e pessoa. 

E sim, "um bom livro é um bom livro quer seja escrito por um homem ou por uma mulher" mas quem usa este argumento para evitar olhar para as desigualdades da sociedade em geral e do panorama literário em particular, precisa parar e começar a olhar à volta. 

(e eu até já sei quem me vai deixar aqui um comentário só para me tentar irritar um bocadinho. provavelmente vais conseguir mas eu gosto de ti à mesma)

 

22
Jan23

O mundo divide-se em...

Patrícia

O mundo divide-se entre quem define uma meta anual de leitura e quem acha que quem o faz não é bem leitor, está apenas a querer aparecer. Ou em quem já leu meia dúzia de livros em 2023 e em quem acha que quem diz ter lido meia dúzia de livros em 15 ou 20 dias está a inventar ou só lê treta. Entre quem lê em ebook e em quem acha que ler em ebook não é bem ler. Em que ouve audiobooks e em quem acha que livros em áudio não são bem livros. Em quem se está a borrifar para a opinião dos outros e em quem tem sempre opinião sobre os outros. Na verdade o mundo não é assim tão a preto e branco, na verdade tem cerca de 50 tons (ai, credo, não faço ideia do que estás a falar, não leio essas porcarias) ou antes uma infinidade deles o que, honestamente, me anda a conseguir tirar do sério. Ando tão fartinha de opiniões que nem vos digo, nem vos conto. Mas aproveitando para debitar as minhas próprias opiniões (e assim demonstrar a minha própria incoerência), cá vai disto...

As leituras vinham já do ano passado mas nem por isso perderam a validade. Ouvir livros não apenas me agrada por ser algo de que gosto como me transformou numa condutora bastante mais calma. Na verdade, na maioria das vezes não me incomodo de ir a passo de caracol e de deixar passar os aceleras se estiver a curtir aquela história. Poderia até dizer que ler em áudio me permite economizar combustível se não fosse, às vezes, pelo caminho mais longo e não desse 3 voltas ao quarteirão só para garantir acabar aquele capítulo. 

Acabei de ouvir o The Lost Metal, do Brandon Sanderson, que fecha a trilogia (se incluirmos o the alloy of law, se calhar devia falar em tetralogia) Mistborn, Era 2. Não posso dizer que não tenha sido interessante e que não tenha acabado de uma forma coerente e que "cumpre" mas tenho algumas reservas em relação a este último livro. Em primeiro lugar, e admito que isto pode ser um bocadinho de ressabiamento de quem se acha um pouco "nerd", há demasiado Cosmere neste livro. Nunca pensei escrever isto, confesso, mas há. Cosmere é aquele universo que nos obriga a ler com as antenas levantadas, que partilhamos com outros nerds, e que os leitores normais não sonham que existe (e não faz mal). Aqui toda a gente sabe quase tudo e mesmo quem não se interessa por Cosmere levou com uma lição em vários actos - e pouco ou nada deve ter percebido. É certo que não se chega a Mistborn- era 2 sem conhecer Cosmere mas ainda assim, too much. E ainda não sei bem o que acho do regresso daquele que sabemos quem é mas não podemos dizer porque é demasiado spoiler para isto. Mas gostei do final, vou ter saudades daquela malta toda. Steris, Marasi, Wax e Wayne, estarão sempre no meu coração. 

O outro livro que me acompanhou nestes primeiros dias de 2023 (e nos últimos de 2022) foi o A Aldeia das Almas desaparecidas, o novo romance de Richard Zimler. Este escritor é daqueles que cumpre a definição de Contador de histórias. Acho que pode escrever a lista telefónica e vai conseguir fazer disso uma história bem contada. E é isso que RZ faz aqui: conta-nos uma história bem contada. Faz-nos gostar e sentir empatia com aquelas personagens, faz-nos sofrer e esperar em cada página pela próxima aventura. E acaba o livro na altura em que parecia estar a começar. Não sei quanto tempo vamos ter que esperar pelo segundo volume da saga A Floresta do Avesso mas o ponto em que o escritor deixa a história de Isaaque é certeiro e faz-nos dizer "A sério, Richard? é aqui que deixas esta história? A sério?". Ao longo destas muitas páginas conhecemos a história de Isaaque Zarco (exactamente, Zarco) deste o seu nascimento às mãos da Avó Flor (que carinhosamente lhe chama hijo de puta desde o primeiro momento). Isaaque vive em Castelo Rodrigo sem saber muito bem o que é um cristão-novo e porque é que isso é uma questão. Mas é, e em muitas dessas páginas é essa a história que vamos ouvir. Mas são as pessoas de quem mais gostamos que mais nos podem magoar, moldar e mudar o rumo da nossa vida. E mais não digo, ide ler o livro.

Entretanto comecei outros livros mas deixo isso para um próximo post. 

boas leituras

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15
Jan23

Dança como se ninguém te estivesse a ver

Patrícia

Hoje dancei. Não me lembro a última vez que tinha dançado assim, sozinha, só porque sim. O meu marido tinha estado a ouvir música e deixou o You tube aberto e eu dei por mim a pôr uma música que ouvi mil vezes, a tirar as pantufas e a dançar e cantar durante uns minutos. Pequenas vitórias. Será que 2023 vai ser o ano em que volto a dançar? A ouvir música e cantar quando ninguém me está a ouvir? Nem me tinha apercebido que tenho saudades de dançar. 

10
Jan23

Carrinhos de linhas

Patrícia

Vinha a ouvir a Patrícia Reis, no podcast Verdes Anos, e quando ela falou da quantidade de (caixas de) botões existentes (ide ouvir o podcast) fui assolada por uma quantidade imensa de memórias, não de botões, mas de carrinhos de linhas. O fascínio que eu, em miúda, tinha pelas gavetas dos carrinhos de linhas, todos arrumados por cores, uma caixa de todos os tons de amarelo, outra de azuis, verde, vermelho, roxo. A imensidão de tonalidades, a beleza daquelas gavetas pequeninas, mesmo do tamanho certo. Naquela estante de linhas tudo encaixava como devia, a beleza da transição de cores sempre me fascinou. Escrevo isto e revejo a mini estante ali no início do balcão da direita da mercearia do meu pai. No balcão da esquerda, também no início, estava outra maravilha da infância: uma pilha de 5 frascos de vidro cheios de rebuçados de várias cores e sabores. Rebuçados que se davam como troco, quando o cliente pedia ou qdo faltavam uns tostões para a conta certa. Lá atrás, ao fundo, o paraíso dos gatos na forma de uma estante vertical de cordas. Rolos de corda de todas as espessuras, desde os cordéis às cordas de grossura inacreditável. E logo ao lado, os tecidos, que me fascinavam, especialmente pela forma como se cortavam: puxar um fio para que o tecido sentisse uma falha no sítio certo, um mini corte de tesoura e um puxão forte e certeiro que rasgava o tecido em dois de forma perfeita. E aquela prateleira dos cadernos (amarelos, pretos ou sebentas, de duas linhas ou de música, linhas, quadrículas ou a magia de uma página em branco), das canetas bic, das borrachas com desenhos de cartas de jogar ou de apagar lápis e caneta, das folhas de 25 linhas e de outros materiais escolares que não me ficaram na memória. As caixas de pregos e parafusos que se enrolavam em papel pardo, de uma forma que não consigo explicar mas que ainda consigo reproduzir (mas sem a magia da rapidez). Os gatos aos pés dele, debaixo do balcão. A porta que se abria a qualquer hora do dia ou da noite, sem horários, porque alguém, da aldeia ou arredores, precisava de alguma coisa. Ontem foi o aniversário do nascimento do meu pai. O homem que conheci através da imaginação porque a vida não é justa.

07
Jan23

um novo começo

Patrícia

Finalmente acabaram as hostilidades festas e agora podemos voltar todos a ignorar os outros e a deixar de fingir preocupação e empatia, de fingir que gostamos de toda a gente da família e dos que não são da família. Talvez conheçam pouco desta minha faceta mas as festas trazem ao de cima o pior que tenho. Fingir alegria, fingir que está tudo bem, deixa-me exaurida e vazia. Sobrevivi e nem posso dizer que correu muito mal mas é um alívio ter terminado. 

Eu adorava o Natal. Adorava as noites de consoada à lareira, adora os almoços de dia de Natal com a casa cheia, fui durante muitos anos a "cola" que juntava toda a gente. Mas as cadeiras foram ficando vazias e actualmente, ver uma das pessoas que mais amo desaparecer um bocadinho a cada dia que passa deixa-me de rastos. Toda a minha atenção e preocupação vai para ela e torno-me protectora. E isso implica protegê-la de tudo o que a deixa desestabilizada, confusa ou triste. Uma casa cheia, um jantar, uma data festiva é o suficiente para que tudo de torne mais difícil do que já é normalmente e eu torno-me esta espécie de grinch que gostava de ter o poder de roubar o Natal. 

Foram os livros que me ajudaram a ultrapassar esta fase das festas. 

Acabei o Mãe, doce Mar, do João Pinto Coelho, um livro bastante diferente daquilo a que o autor nos habituou e isso é muito bom. Gosto de ler um livro e não sentir que o estou a ler pela décima vez. Gostei de conhecer Noah e gostei muito do pouco que conheci de Patience. Não posso dizer que o final é totalmente surpreendente porque não é mas isso não me estragou a leitura. Não posso, sem dar spoilers, falar muito sobre o que me deixou a pensar, a reflectir sobre actos e consequências, sobre o que nos faz agir e reagir e em como é muitas vezes difícil vivermos dentro de nós. Um livro com personagens que, no todo ou em parte, nos reflectem torna-se sempre pessoal.

Como recebi vários livros este Natal (deve ter sido um milagre, era coisa que não acontecia há anos), passei o dia de Natal a ler o Um casamento Americano, de Tayari Jones, um dos que chegou cá a casa embrulhado e com um laço. Foi uma escolha perfeita e não percebo como não se falou mais deste livro. Com tradução da Tânia Ganho, é um daqueles livros que nos faz pensar e que consegue a proeza de nos fazer pensar ao mesmo tempo que que nos conta uma história que nos obrigada a ler página atrás de página. Celestial e Roy são um jovem e feliz casal até que ele é preso por um crime que não cometeu. Não é a dúvida "é culpado ou inocente" que este livro explora - sabemos sem sombra de dúvida que ele é inocente deste o primeiro momento. Mas inocente ou não, Roy fica preso vários anos. E se Roy muda por estar preso, onde o tempo se conta de forma diferente, Celeste muda porque não o está e porque a vida continua. Este livro é sobre as consequências dessas mudanças, sobre a vida que acontece, sobre preconceito e racismo, sobre justiça, amor e amizade. É mesmo uma pena que este livro passe despercebido.

E porque uma história bem contada é sempre uma boa forma de acabar um ano e começar outro fresquinho, comecei a ler outro presente de natal. A Aldeia das Almas desaparecidas do Richard Zimler é a minha leitura actual, posso dizer-vos que estou quase a acabar mas falamos sobre ele no próximo post.

Para todos boas leituras, um ano cheio de bons livros.

 

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24
Dez22

Natal com livros - 24

Patrícia

Se a esta hora não têm prenda para todas as pessoas aconselho um qualquer cartão presente. Podem enviar por whatsapp e até parece que se lembraram e se deram ao trabalho.

(0 espírito natalício a esta hora, o que não augura nada de bom. Mas vou fingir com a melhor das boas vontades. Para vocês desejo, acima de tudo, saúde. O resto vai-se desenrascando de alguma forma).

 

 

 

 

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