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Ler por aí

Ler por aí

11
Jun21

da meia noite às seis, de Patrícia Reis

Patrícia

1540-1.jpg

Vamos, antes de mais, falar dos livros certos na altura certa. 

Há que tempos sou fã dos livros da Patrícia Reis, já li vários e sei que são, sempre, uma aposta certa. E foi por isso que escolhi um livro dela - e que ainda por cima tem sido super recomendado pela Roda dos Livros e por outras meninas - para sair desde marasmo dos policiais. Os policiais têm sido a leitura conforto dos últimos meses mas não são, de todo, o meu género preferido. Não costumo forçar leituras mas ontem, dia de Portugal e das comunidades, achei ser o dia perfeito para ler em português. Este "da meia noite às seis" estava comigo há uns tempos e à espera do dia certo. E digo-vos que foi o livro certo na altura certa.

É um livro pequenino (apenas umas 115 páginas) que se lê num ápice e que aquece o coração. Os livros da Patrícia Reis não costumam ser propriamente livros felizes e logo de início fiquei de coração apertado (este é afinal, um livro sobre o luto)  e pensei que aquelas páginas iam estar carregadas de tristeza pesada, de angustia mas afinal este é um livro cheio de esperança e dessa coisa bonita chamada amizade. Não se iludam com estas palavras. Há toda a tristeza do mundo nestas páginas mas há também esperança, luz e recomeços.

Susana Ribeiro de Andrade ficou viúva em plena pandemia de covid 19. Forçada a recomeçar, aceita tornar-se a voz das horas mortas na rádio onde trabalha. Rui Vieira é o jornalista que escreve as notícias que Susana Ribeiro de Andrade lê a cada hora certa. É da meia noite às seis que as suas histórias e as histórias dos que os ouvem se vão entrelaçar nesta história de amor. E de amizade. E de recomeços.

Um livro claramente escrito em pandemia, que marca o tempo extraordinário que vivemos e que tem a voz tão característica da Patrícia Reis. Há neste livros histórias de amor, histórias de perda, reivindicações e chamadas de atenção. Há jornalismo. Há memórias. E livros. E músicas. E poemas. E uma actualidade muito marcada, parte desde livro é uma chamada à reflexão sobre o que vivemos, como vivemos e como queremos viver. 

Mas este é, para mim, acima de tudo, um livro sobre recomeços, amizade e amor.

 

 

 

07
Ago19

As crianças invisíveis, de Patrícia Reis

Patrícia

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"Mas havia sempre a culpa, a ideia de que ser difícil não é desejável, a vontade de encaixar, a vergonha de ser quem se é por não se saber ser melhor. Não tendo a certeza da possibilidade de regresso ao lugar que conhece, M. considerou que era melhor concordar, fazer o jogo do estou-bem"

 

Quão invisíveis são as crianças institucionalizadas? Suponho que essa invisibilidade seja directamente proporcional à falha da sociedade para com eles. 

Patrícia Reis, neste belíssimo livro - como objecto é extremamente cuidado, como já seria de esperar, desde a textura da capa à cor dos separadores dos capítulos (não me ouvem dizer isto muitas vezes mas este livro merecia uma edição em capa dura) - conta-nos a história de M. durante o tempo da sua institucionalização na "Casa".

Ao longo destas (poucas) páginas, vamo-nos debruçar e reflectir sobre uma realidade que, tantas vezes, apenas conhecemos na teoria e que, como geralmente acontece nestes casos, julgamos conhecer e atrevemo-nos a julgar e opinar. 

A institucionalização - algo que me parece um mal necessário - de crianças em risco e o drama que é, por vezes, a tentativa de as inserir numa família. O horror que é a possibilidade de devolução de uma criança nos primeiros 6 meses. O tipo de laços criados numa instituição, o tipo de família que, também aí se cria, e o seu futuro.

Acho que é unânime a opinião de que todas as crianças merecem ter uma família - seja mais ou menos tradicional - e a protecção e amor que lhes permitam crescer em segurança e com oportunidade para serem tudo o que quiserem ser.

Mas, e este é o ponto mais importante deste livro, será esta solução (a adopção) a mais certa para todas as crianças? Até que ponto, a nossa noção do que é "certo" entra em colisão com aquilo que é necessário, com aquilo que aquela menina ou menino, aquela pessoa, quer e precisa?

Gostava de ter tido mais tempo com M. e com Conceição para estabelecer com estas personagens uma ligação maior. Provavelmente isso iria implicar mais páginas e que a acção não abrangesse um período de tempo tão longo. Não me importava nada até porque a autora levantou várias questões que acabou por não aprofundar.

Doeu-me ler este livro e isso é o maior elogio que lhe posso fazer. Sem qualquer sombra de dúvida será um dos livros deste ano.

 

 

 

 

30
Out18

A construção do vazio, de Patrícia Reis

Patrícia

A-Construcao-do-Vazio.jpg

 

Assim que percebi quem era a personagem principal deste livro soube como ele acabava. Tenho ainda muito presente a história que a escritora me contou em Por este mundo acima. Gosto de histórias assim, com personagens que já conheço, gosto quando se preenche os pontos vazios de uma história, gosto quando se entrelaçam histórias. 

Com a Construção do Vazio fechei o ciclo destas histórias entrelaçadas que a Patrícia Reis nos contou e sabem qual foi a primeira coisa que fiz? Sem sequer me levantar do sofá, abri o No Silêncio de Deus e recomecei a ler. Sei que estes são livros a que vou voltar mais do que uma vez.

Quem o leu perceber-me-á quando digo que este livro acabou comigo. A violência atinge-nos nas primeiras páginas. Nada pode ser pior que aqueles primeiros capítulos. E é verdade, nada é. Mas o título é certeiro e, às tantas, a sensação de vazio assalta-nos. E isso não é melhor...

 

 

31
Jul18

Por este mundo acima, de Patrícia Reis

Patrícia

por este mundo acima.jpg

 

E quando o mundo muda de repente e a vida, tal como a conhecemos, deixa de existir, o que fazemos? Numa sociedade distópica ou pós-apocalíptica ou pós "acidente", é sobre o ser humano que a Patrícia Reis escreve. Pelo menos foi assim que eu li este livro.

É através de Eduardo que olhamos a cidade. Ele sobreviveu. Foi dos poucos. Os amigos, tanto quanto sabe, não sobreviveram. Como continuar assim? Como sobreviver sem família, sem amigos - família escolhida - sem trabalho, numa cidade desfeita, vazia de gente? Antes de encontrar o futuro, Eduardo procura o passado nas histórias dos amigos. E ainda descobre O livro. Aquele que, enquanto editor, gostava de editar. 

Li várias opiniões acerca deste livro. Acho que cada leitor o lê de forma ligeiramente diferente. Mesmo sendo um livro extremamente triste, que me deixou de alma apertada várias vezes ao longo da leitura, relembro esta como uma história de amizade, de esperança. Uma história de recomeço.

E gostei muito. Mesmo muito. Leiam. 

 

 

12
Mai17

No silêncio de Deus, de Patrícia Reis

Patrícia

no silêncio de Deus.jpg

 

Às vezes a solidão aos 30 é igual à solidão dos 60 ou dos 70. Às vezes há amizades que não parecem fazer muito sentido mas a verdadeira e mais interessante relação entre duas pessoas é quando ela acontece sem que haja preparação, escolha ou preconceito envolvido. Quando simplesmente acontece.

A sinopse deste livro diz

    Um livro sobre os livros e o exercício da escrita.

    Um escritor descobre que está a morrer.
    Uma jornalista tenta desvendá-lo.
    Ambos procuram a redenção.
    Encenam uma fuga à realidade.
    Três cidades: Lisboa, Jerusalém, Amesterdão.
    E ainda uma prostituta, um barman, um médico homeopata.
    A possibilidade da salvação e a procura da humanidade.
    As falhas de cada um. O passado como identidade. Um fado.
    Vários livros. Dor e consternação.
    No fim, sem medo, uma ideia melhor.

 

E, de facto, a solidão está presente em todas as personagens, em todas as páginas. E a procura de um sentido para a vida, no sentido mais restrito e particular do termo. O que faz de uma vida uma boa vida? Uma vida digna se ser vivida? Todos temos, em maior ou menor grau, o medo de chegar ao final do caminho, olhar para trás e não encontrar nada que realmente tenha valido a pena. Nada em que tenhamos deixado a nossa marca. E da mesma forma já olhámos para o vazio do futuro com medo, sem esperança.

Sara e Manuel, os dois protagonistas desta história são, à primeira vista muito diferentes, mas em ambos encontramos a mesma solidão, a mesma falta de esperança. E digo-vos já que me apeteceu, muitas vezes, abanar ambos. Mais a Sara, que o Manuel. Apesar de tudo compreendo-o melhor a ele que a ela. 

Este é um livro sobre sentimentos, decisões, momentos, escolhas. Sobre arrependimento. Sobre a possibilidade de nos reinventarmos.

Gostei muito e, ainda antes de terminar esta leitura, comprei o "Por este mundo acima"  que será, uma das minhas próximas leituras.

27
Out16

Contracorpo, de Patrícia Reis

Patrícia

Contracorpo.jpg

 

Às vezes questionamo-nos como é possível que um livro descreva tão bem coisas que sentimos e nunca conseguimos transmitir.

Às vezes perguntamo-nos como é possível que aquele escritor escreva sobre nós.

Às vezes transformamos em nosso um livro e torna-se difícil, ou mesmo impossível, opinar sobre ele.

Este é um daqueles livros em que isso me aconteceu e por isso ando há semanas a “engonhar”, a processá-lo na minha cabeça, assim meio esquecido, meio presente.

Quando acabo de ler um livro e tento pôr em palavras a minha opinião, a primeira coisa em que penso é no tema do livro, na mensagem que o escritor/a quis passar e se (eu acho que) o conseguiu fazer. Ora, de início, achei que obviamente este era um livro sobre o luto. Maria perde o marido, Pedro perde o pai e ambos têm que aprender a viver sobre isso. Depois torna-se óbvio que o livro fala sobre a maternidade, sobre a relação de uma mãe com o seu filho adolescente. Depois percebi que este livro é uma viagem de autoconhecimento, para ambos, mãe e filho.

Mas para mim, e provavelmente só para mim, este livro é sobre a transformação. Maria começa por ser a viúva, a mãe e precisa, sob pena de se perder definitivamente, de se transformar, acima de tudo, na mulher.

E o Pedro precisa de se encontrar, de se responsabilizar. Apesar de à sua volta todos julgarem todas as suas atitudes à luz daquela morte (a morte de um pai marca, muda e condiciona tudo), o Pedro tem consciência de que as suas atitudes são suas e que também ele se tem que libertar das desculpas, dos condicionamentos, assumir as suas responsabilidades e acima de tudo tomar decisões, fazer escolhas. Escolhas, é isso. Escolhas.

05
Ago16

A Gramática do Medo, de Maria Manuel Viana e Patrícia Reis

Patrícia

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"esta semana trocamos, fazes de mim e eu de ti"

Sara Santiago e Mariana Sampedro. Mariana e Sara. Duas mulheres que são o avesso uma da outra, a metade uma da outra. Iguais e diferentes. Tão diferentes quanto duas pessoas podem ser sendo iguais. 

Um livro a que preciso voltar. Páginas que preciso reler. É demasiado fácil dizer que é um livro sobre o medo, isso é óbvio pelo título. É demasiado redutor dizer que é um livro sobre a amizade ou sobre o amor, apesar de ser isso tudo. É óbvio que é um livro que enaltece as palavras, a literatura, que joga com a realidade e ficção (e como se diz às páginas tantas "cabe ao leito e espectador a terrível tarefa de discernir ficção e história"). 

Acho que é o tipo de livro que terá um significado diferente para cada leitor. Para mim é um livro sobre o auto-conhecimento. A procura e luta para nos (re)conhecermos. O quão nos castigamos por vezes e como nos iludimos. Sobre as várias partes de nós. A necessidade de morrer e voltar a nascer. A vida como circunferência e não como linha recta.

 

 Arrisquem. Leiam este livro. Falem sobre ele. Discutam as vossas interpretações do que aqui se conta. Há tanto para falar. Quando (antes da página 50) comecei a desenvolver uma teoria sobre o final, achei que me ia desiludir se "acertasse" mas a verdade é que, apesar de achar que acertei em cheio, não me desiludi nem um bocadinho, adorei todo este puzzle. E se já tinha decidido que queria ler tudo o que a Maria Manuel Viana escreveu, agora tenho que ler também tudo o que a Patrícia Reis escreveu. A  expectativa de ter tantos livros bons para ler é maravilhosa. 

Em Português e no Feminino escreve-se muito bem*.

 

"...agora sou eu quem te pede para de encontrares, se me encontrares, como eu preciso, posso salvar-nos e seremos um, entendes?"

* não por aqui, claro. Fico sempre com a sensação de que quanto mais gosto de um livro menos consigo transmitir isso. Por isso deixem-me resumir: Este livro é brutal (em vários sentidos). Leiam.

26
Jul16

O proibido é o mais apetecido. Qdo a censura tem o efeito contrário

Patrícia

500_9789722060073_gramatica_do_medo.jpg

 

O Facebook, esse sítio onde o bom gosto e moral imperam, considerou que esta imagem atenta contra a moralidade e... censurou-a. Não vou fingir perceber o porquê disso ter acontecido mas, só porque me apetece, vou aproveitar a ocasião para fazer um bocadinho de publicidade ao livro que será o próximo a ser lido. 

Bem, na verdade, já o comecei a ler. Comprei-o ontem (em ebook, ficou a 9.99€) e não resisti e já li umas páginas. Não sei se já vos disse mas, deste que li o Teoria dos Limites decidi ler todos os livros da Maria Manuel Viana (ando com alguma dificuldade em encontrar à venda o "A paixão de Ana B", se alguém o tiver e se quiser desfazer do seu exemplar, avise-me, pf). Ler também algo da Patrícia Reis (escritora super recomendada pela Roda dos Livros) é um excelente bónus. 

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