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Ler por aí

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10
Ago17

Uma Senhora Nunca, de Patrícia Müller

Patrícia

uma senhora nunca.jpg

 

Fiquei agarrada a este livro nas primeiras páginas. Logo aí decidi que o "Madre Paula" seria uma das minhas próximas leituras e que Patrícia Müller é uma escritora a seguir.

Maria Laura é uma mulher fascinante. Muitas vezes irritante e quase sempre incompreensível. É preciso recuar no tempo e ir novamente a 1974, ao dia da revolução e começar a compreender. Não, minto, é preciso ir mais atrás. E mais ainda. É preciso olhar em volta e perceber o espaço e o tempo envolvente para começar a perceber esta mulher, esta vida fascinante. 

A crítica social está presente, claro. Como disse não seria possível perceber esta mulher, a sua família, as suas atitudes, sem perceber o país, o regime, a sociedade, a igreja de então. A hipocrisia. A moral. E esta parte do livro é impressionante. 

Mas o que me fascinou neste livro foram duas mulheres. Maria Laura e Glória. As suas atitudes, as relações com os que as rodeavam. As várias camadas que tinham. Não há heroínas nesta história, tal como não as há na vida real. Há pessoas que cometem erros, que acertam, que fazem asneiras com a melhor das intenções ou que acertam por acaso, porque o objectivo era outro. E são essas pessoas que moram nestas páginas. São essas mulheres que têm voz pela mão da Patrícia Müller. E como ambas são fascinantes. 

Espero que o protagonismo da escritora com a adaptação televisiva do seu Madre Paula permita que mais gente conheça este "Uma Senhora Nunca" que, injustamente, tem passado despercebido.

 

Deixo-vos um excerto de "um texto inédito que complementa Uma Senhora Nunca", que a escritora partilhou na rubrica Ao Domingo com... do blog da Cris (O tempo entre os meus livros). Sigam o link no texto para lerem, não só o texto completo como o que Patrícia Müller escreveu para o blog da Cris. 

 

 

O que uma senhora ainda não pode é ter falta de amor paternal. 
Mas Maria Laura não se senta na obrigação de cumprir com outras regras que não as que ela conhece desde pequena, desde que se reinventou e chamou a si o epíteto senhorial, à custa de puxar as veias certas do coração e desligar as que pertencem a classes mais simplórias e populares. A senhora não é pontual, a senhora faz as horas do dia. Não é económica, é rica. Não é sincera e leal, usa de todos os recursos que possui para conseguir o que quer, incluindo mentir, exagerar e até verter lágrimas de crocodilo. A senhora é um crocodilo mal humorado. Tem confiança de que a educação – fornecida através da perceptora que a acompanha em casa; do pai que tudo sabe sobre o mundo e da avó, detestável avó que a ensinou a comer como se pudesse ir amanhã jantar com um membro da realeza europeia – é a chave para uma boa vida. Uma senhora ainda não pode prescindir de regras, sob pena de se engolir no seu próprio vómito. É um balanço complicado, uma linha de água muito escorregadia: um desequilíbrio e afunda. Maria Laura não afunda, porque a mão de Deus está sempre debaixo dela. E uma senhora ainda não pode permitir-se ficar sozinha neste mundo, sem a companhia do pai e de Deus. Por isso, Maria Laura, a senhora de todas as senhoras, reza todas as noites pelas semelhantes a ela e pede, com fervor, que nunca esmoreçam na tarefa de construir o mundo. Sem as senhoras, era tudo uma cambada de ordinaríssimos. E valha-nos Deus que isso venha alguma vez a acontecer.

 

Sobre este livro a Cris também escreveu uma opinião. E a Vera. E a Cris Rodrigues.

 

29
Jul17

Entre o sono e o mundo de Uma Senhora Nunca, de Patrícia Müller

Patrícia

uma senhora nunca.jpg

 

Entre o sono e o mundo de Maria Laura em "Uma Senhora Nunca", de Patrícia Müller. Assim se passa uma tarde de Verão. Sempre gostei destas horas em silêncio, quando todos, até o gato, dormem cá em casa. Gosto do silêncio. Gosto de ler sem hora marcada, sem hora para terminar, numa moleza de verão. Gosto mais do inverno, sinto-me bem, acompanhada de uma manta e de uma chávena de cá, com o cheiro da chuva. Mas as tardes intermináveis de verão, quando está demasiado calor para ir para a rua, quando até os animais se escondem na sombra, dessas tardes eu também gosto. Fazem-me voltar às tardes da minha infância, aos mundos dos livros que lia por amor às letras e por não ter ordem para sair até que o sol desse tréguas.

Às tardes em que podia ser tudo. A casa toda em silêncio, naquele silêncio completo que já só sinto quando regresso a essa casa na aldeia (a cidade faz barulho) e o meu mundo crescia tanto quando a minha imaginação permitia. Deitada no chão (estava demasiado calor para os sofás), às vezes escondida no vão da janela, geralmente com um gato por perto. Sempre gostei de gatos e sempre gostei de livros. E de silêncio. Cada vez gosto mais de silêncio.

 

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