26
Set14
Em busca do Carneiro Selvagem, de Haruki Murakami
Patrícia
Wild Sheep Chase ou WildGeese Chase ou em bom Português “ à caça de Gambozinos” (esse mítico animal quepara mim terá sempre rabo de saca-rabo e orelhas de zorrinha).
Murakami mesmo quandonão é muito bom (como me pareceu neste livro de que não gostei tanto como de1Q84) é fantástico e uma vez mais guia-nos para o meio de uma história ondemuito pouco do que parece é. Desta vez não há duas luas no céu mas há umcarneiro muito especial de quem todos parecem andar à procura. Depois de umaprimeira estranheza não nos é possível ignorar que o carneiro está mais quepresente em todo o lado. Assim de repente é um dos signos do zodíaco, estápresente na religião (o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, S. Joãoque é representado com o cordeiro), na mitologia Egípcia (O deus Amón), naGrega (hermes) e em várias culturas espalhadas por esse mundo for a (China, Índia,África, Europa), etc, etc.
Por isso, como sempre,esta busca de que nos fala o livro, está sujeita a múltiplas interpretações. Oque sabemos é que o protagonista (de quem nunca sabemos o nome) é um homemdesiludido com a sua vida pessoal e emocional, mediocremente vencedor na suaprofissão e sem objectivos de vida, sem objectivos ou projetos de futuro.
Este homem vê-sesubitamente obrigado a sair da sua zona de conforto, a encarar as dúvidas existenciais que tem, a fechar de vez algumasportas do passado e a encontrar-se. Com ele conhecemos (uns melhor do queoutros) personagens fascinantes. Há uma modelo de orelhas, um homem, outrora desucesso, conhecido como professor carneiro que vive fechado num quarto, há ummotorista que tem linha direta para deus e que gosta de gatos e há um homemconhecido por Rato (e outros, que estelivro tem imensos personagens).
Uma vez mais foram asdescrições que me obrigaram a gostar deste livro. Murakami consegue,estranhamente, fazer-me gostar de ler sobre nada –nunca soube tanto acerca dopastoreio de carneiros como agora - ou sobre tudo. Porque a verdade é que estelivro pode ser lido literalmente (e aí, convenhamos, não é grande coisa) oumetaforicamente e aí a mestria de Murakami está patente.
E apesar de não ser omelhor livro de Murakami (está longe do 1Q84) é, sem dúvida de Murakami. Estácá tudo: as descrições, o fantástico, o surreal (ok, não há homenzinhos a sairda boca de ninguém, nem duas luas no céu mas....), a comida (acho que naprática a maioria das receitas deste fulano devem ser péssimas mas ali, naspáginas do livro, até aipo com maionese -1Q84- ou sandes de pão caseiro durocomo pedra parece delicioso), as referencias musicais ou literárias (eu nãoconheço a maioria mas as notas da tradutora ajudam imenso).
Apesar de não ter amadoeste livro Murakami continua a ser um dos meus escritores favoritos, um daquelesde quem quero ler todas as obras.