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Ler por aí

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31
Ago22

Velhos Lobos, de Carlos Campaniço

Patrícia

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"como se houvesse luxo mais procurado do que a liberdade de viver sem dono"

Esta é a história da solidão. É uma história de vidas entrelaçadas, de calor alentejano, de mulheres com poderes extraordinários, de homens que usam o poder a seu bel-prazer, de vidas banais. O Carlos Campaniço conta o Alentejo, o interior do sul de Portugal, e fá-lo muitíssimo bem.

Talvez para quem não tenha raízes na terra este seja apenas um livro que conta a história da quezília de duas famílias, os Velho e os Lobo, de uma mulher que põe as mãos na terra para falar com os mortos, de gente que quase morre de amores ou de quem procura o seu lugar na vida. Ou de quem, como Sebastião, vê a vida quase fora para depois a contar com mestria. Mas há quem entre nas páginas deste livro e se deixe arrastar pelo cheiro e pelas cores. Este é um livro que cheira a calor alentejano, a planícies secas, a silêncios apenas quebrados pelos sons da natureza. É um livro cheio de tardes escaldantes que se arrastam, tal como as guerras familiares se arrastam, intermináveis, sem razão (ou alguma da qual poucos ainda se lembram). É um livro de um tempo em que era fácil acreditar no poder de algumas pessoas, das mezinhas que ajudavam a curar maleitas e onde a religião é adaptada para uso corrente. 

Os livros do Carlos Campaniço não têm caído em graça na comunidade de leitores online (o que se percebe pelos números do goodreads e pela falta de reviews nas redes sociais) o que é uma pena porque é tão bom lê-los, a sua qualidade merecia muito mais. Até é estranho já que conheci o Carlos Campaniço e os seus livros através da Roda dos Livros onde somos, quase todos, fãs do escritor ("olhem, saiu um livro do Campaniço" é sempre uma boa notícia por ali).

Confesso que são dos livros que mais ofereço e recomendo (não sei quantas vezes já o fiz com Os demónios de Álvaro Cobra e com o Dom Rufia, que é divertidíssimo) e já sei que este "Velhos Lobos" vai ser um dos livros que vai chegar a algumas mãos no próximo natal.

 

 

03
Nov16

As viúvas de Dom Rufia, de Carlos Campaniço

Patrícia

As viúvas de dom Rufia.jpgQue livro surpreendente, este.

Carlos Campaniço leva-nos, mais uma vez, numa viagem ao Alentejo, na companhia de personagens inesquecíveis. 

Um homem, Firmino Pote, mais conhecido por Dom Rufia, é encontrado morto. Ora, o nosso Dom Morto foi criado por uns tios (Maria Teresinha e Homero Dente D'Alho) que por muito bem lhe quererem sempre lhe desculparam os disparates (aqueles que lhe deram, por exemplo, a alcunha de Dom Rufia).

Tudo se complica quando, ao velório, chega uma mulher que se diz viúva do morto. E mais, essa mulher, desconhecida na aldeia de Dom Rufia,  diz ter recebido a comunicação da morte através duma carta escrita por Homero Dente D'Alho dias antes do assassinato. 

Ora, está dado o mote para o livro. O tio, passa a velório no xelindró (exigem-lhe, obviamente, algumas explicações, chega a ser suspeito, afinal anunciou a morte antes dela acontecer) enquanto a tia vela o morto na companhia das sucessivas viúvas que vão aparecendo... e de Armindinho Costureirinha.

Afinal, Quem matou Dom Rufia? Porquê? 

Quem foi este homem com "viúvas" (sim, no plural) que não arredam pé do velório mais divertido da história da literatura mesmo depois de se saberam enganadas? 

E não me posso esquecer de Juan de los Fenómenos, um chileno que percorre o alentejo enquanto documenta fenómenos vários, desde um menino cujos olhos mudam de cor quando muda a estação do ano a um homem com o dom da ubiquidade. 

Divertido do princípio ao fim, este é um livro que nos deixa de bem com a vida. E ainda nos leva ao início do sec. XX, mostrando-nos pormenores deliciosos da vida rural alentejana. E, como a rir é possível falar de coisas sérias, Carlos Campaniço explora uma série de temas ao longo destas páginas. Seja a religião, a politica, os costumes das gentes ou simplesmente a capacidade de um homem se reinventar só pela força de vontade e de se perder pela bondade que não consegue evitar, este é, também, um livro de grandes temas.

E para mim, um bónus. Conheço boa parte daquelas terras, daquelas aldeias e vilas onde tudo aconteceu. Garanto-vos que me lembrarei sempre de Dom Rufia quando por lá passar.

Se tiverem oportunidade não deixem passar este livro. Este autor merece ser lido (Os Demónios de Alvaro Cobra é maravilhoso)

 

16
Ago14

Os Demónios de Álvaro Cobra, de Carlos Campaniço

Patrícia
 
Que personagem, o nosso Álvaro, homem rude e de rompantes tamanhos e que é, sem dúvida, inesquecível. Maria Braz, uma alentejana com duas mãos diferentes, Clarinha do torrão doce que tem vontade de ferro e alma de nómada. Lourença que viveu duas vidas. Vicente, que por amor é capaz de dar a vida, a alma, a voz.
Álvaro Cobra e os seus prodígios arrancaram-me gargalhadas às primeiras páginas. Que surpresa tão boa foi ler o Alentejo, rude e pobre, nestas páginas cheias de vida e de imaginação. Que bom ler a tristeza contada com graça e alegria sincera. Que bom livrarmo-nos, ainda que apenas por um livro, do fado e nostalgia. Porque este livro tem nas suas páginas o ser Português contado de outra forma, tem um padre, vários judeus e até um indiano.Tem crenças e mezinhas. Tem a mistura que nos está no sangue e que tantas vezes recusamos. Cristãos, Judeus, Muçulmanos. Tudo bem misturado e criado sob o sol Alentejano dá nisto.  Ah e tem grifos, pássaros que cantam à hora certa,  febres eternas, gente que morre uma série de vezes e outras que teimam em não morrer,uma cadela que fala e tantas outras deliciosas loucuras que fazem deste um livro a não perder.
Um livro absolutamente fabuloso, maravilhosamente escrito e que me convenceu às primeiras páginas e que não me desiludiu nas últimas.

 

Um livro que todos deviam ler. Um livro que me deixa orgulhosa porque é de um escritor Português. Por isso ide conhecer o Álvaro Cobra e depois venham cá dizer-me o que acharam.
09
Ago14

Demónios de Álvaro Cobra e Mal nascer – Carlos Campaniço

Catarina
Gostei muito do “Demónios” e de todas as suas personagens. Álvaro Cobra que morreu duas vezes, nunca viu o mar e conversa com o pai, que morreu só uma vez mas completamente. O errante subversivo Benalma que diz mal do padre ocioso, dos santos e da Igreja em geral. Mais a prostituta Margot com o seu espectáculo de luz e cor. Maria Braz com as suas mãos diferentes, uma gorda outra magrinha. A avó que parece que já morreu e esqueceu-se de avisar. A Clarinha nómada que é obrigada a casar com o velho Álvaro e a lançar âncora numa única terra contra sua vontade. Tive pena que a Clarinha se sumisse a meio da história, fiquei com curiosidade de saber mais sobre ela.
Estranhamente ou não lembrei-me muitas vezes dos livros que li da Isabel Allende, com as suas personagens fora do vulgar. Menos a parte dos grifos, esses fizeram-me lembrar os abutres do Lucky Luke.
Gostei também do bom humor existente aqui e ali:
“...ÁlvaroCobra, mais bruto do que uma mula, nem ouviu as últimas ameaças do padre e deixou-o a pregar para as hortaliças sequiosas, ideia que nem o sábio Vieira havia alguma vez cogitado por ter na fé melhores ouvintes entre os povoadores marinhos.”
“...Benalma ... Inventou, na sua cabeça feita para as invenções, que o padre se chamava Jesuíno porque tinha herdado Je do pai e suíno da mãe.”
“Quando os grifos o viram com tão pouca vontade julgaram-no doente. Discutiram às bicadas os melhores lugares no telhado... – São uns ingratos, estes cabrões! –desabafou Álvaro com a mãe, depois de uma noite de insónias com o rosnar dos necrófagos. – Fingem-se afeiçoados, mas no fundo estão à espera que eu morra para me comerem.”
Em resumo, boa história, bem contada vale muito a pena.
 
 
Quanto ao “Mal nascer” não fez grande mossa.

 

Fez-me lembrar os romances de Júlio Dinis que li quando era cachopa e romances não são a minha cena. 
Se gostam, leiam este, vão gostar, e não se preocupem no final não são irmãos – é Júlio Dinis e não Eça de Queirós - só não digo se acaba bem ou não, têm de ler até ao último parágrafo.
11
Mai14

Mal Nascer, de Carlos Campaniço

Patrícia

Santiago Barcelos, médico por sorte ou fado do destino, regressa à terraque o viu "mal nascer". Quais serão as motivações que o levam a regressar a estaterra, a esconder a verdadeira identidade e a fingir-se amigo dos que tanto mallhe fizeram?
Este é um romance escrito a dois tempos e se por um lado acompanhamosum homem de sucesso por outro conhecemos a vida do menino que foi um dia. Comuma escrita cuidada mas fluída a vida de Santiago, os seus pensamentos, crençase pesadelos são-nos expostos e o presente alterna com o passado de uma formainteressante.
No inicio do século XIX o Alentejo era quase um país diferente deLisboa. Mas até por lá se sentia a disputa entre D.Pedro e D. Miguel pelasrédeas deste nosso país. Confesso que adoraria ter visto desenvolvida estaguerra que dividiu o país entre 1828 e 1834. Mas a história que Campaniço nosconta centra-se sobretudo nos sentimentos e nas relações entre as pessoas.
Confesso que foram os capítulos mais negros, da infância de um menino eda sua mãe que mais me interessaram. Não senti qualquer empatia (ou simpatia) como homem em que Santiago se tornou. Mas sofri com o menino que foi.

Para quem gosta de romance, aqui está uma boa escolha para umas horasde leitura. Para os que, como eu, não são muito fãs de romance, aconselho a quearrisquem a leitura de um outro livro do escritor “Os demónios de Álvaro Cobra”,que será certamente uma das minhas próximas leituras.

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