Velhos Lobos, de Carlos Campaniço
"como se houvesse luxo mais procurado do que a liberdade de viver sem dono"
Esta é a história da solidão. É uma história de vidas entrelaçadas, de calor alentejano, de mulheres com poderes extraordinários, de homens que usam o poder a seu bel-prazer, de vidas banais. O Carlos Campaniço conta o Alentejo, o interior do sul de Portugal, e fá-lo muitíssimo bem.
Talvez para quem não tenha raízes na terra este seja apenas um livro que conta a história da quezília de duas famílias, os Velho e os Lobo, de uma mulher que põe as mãos na terra para falar com os mortos, de gente que quase morre de amores ou de quem procura o seu lugar na vida. Ou de quem, como Sebastião, vê a vida quase fora para depois a contar com mestria. Mas há quem entre nas páginas deste livro e se deixe arrastar pelo cheiro e pelas cores. Este é um livro que cheira a calor alentejano, a planícies secas, a silêncios apenas quebrados pelos sons da natureza. É um livro cheio de tardes escaldantes que se arrastam, tal como as guerras familiares se arrastam, intermináveis, sem razão (ou alguma da qual poucos ainda se lembram). É um livro de um tempo em que era fácil acreditar no poder de algumas pessoas, das mezinhas que ajudavam a curar maleitas e onde a religião é adaptada para uso corrente.
Os livros do Carlos Campaniço não têm caído em graça na comunidade de leitores online (o que se percebe pelos números do goodreads e pela falta de reviews nas redes sociais) o que é uma pena porque é tão bom lê-los, a sua qualidade merecia muito mais. Até é estranho já que conheci o Carlos Campaniço e os seus livros através da Roda dos Livros onde somos, quase todos, fãs do escritor ("olhem, saiu um livro do Campaniço" é sempre uma boa notícia por ali).
Confesso que são dos livros que mais ofereço e recomendo (não sei quantas vezes já o fiz com Os demónios de Álvaro Cobra e com o Dom Rufia, que é divertidíssimo) e já sei que este "Velhos Lobos" vai ser um dos livros que vai chegar a algumas mãos no próximo natal.