02
Jul13
A raiz do ódio, de Anne Holt
Patrícia
Como é a raiz do ódio? Onde começa, como se alimenta paracrescer até ramificar e destruir tudo à sua volta?
Este livro, o primeiro que li da Roda dos livros, foi umaótima surpresa. Definitivamente Anne Holt entrou para a minha lista de autoresfavoritos.
O livro começa com uma criança especial, Kristiane, acaminhar descalça numa noite gelada das ruas de Oslo. É salva, in extremis, por um desconhecido.Johanne, a mãe da criança, não compreende quando ela lhe diz “A senhora estavamorta”.
Adam, marido de Johanne, é chamado para investigar a morteda episcopisa Eva Karin, fervorosa defensora dos direitos dos homossexuais. Mashá outras mortes a serem investigadas pela polícia. Um drogado, um prostituto eum artista entre outros.
A história vai-nos sendo revelada a várias vozes, as váriashistórias interligando-se. Há muitas coisas que percebemos facilmente, outrasque apenas nos são reveladas no final. Mas o interesse mantém-se sempre.
Por trás da história está o que nos faz pensar. O ódio e aviolência dirigidos a grupos com características específicas, não a pessoasespecíficas. O que faz alguém matar outro alguém apenas porque este é negro,cigano, homossexual ou de outra religião? Como é que é possível deturpar umareligião, pegando num texto escrito há milhares de anos e usá-lo literalmentepara tirar vidas? Como é possível usar alguém, usar-lhe a fé, o desespero, anecessidade de encontrar um sentido para a vida, moldá-lo e torná-lo num instrumentoao serviço do dinheiro e da maldade humana? Como é possível, num momento deloucura, destruir a vida de tantos?
Temos a sorte de viver num país onde os crimes de ódio nãosão muito comuns (penso eu), por cá o racismo, a homofobia, a xenofobiamostra-se mais nas palavras que nos atos. Não é essa ausência de violência quenos iliba, que nos faz melhores. É necessário que nem sequer tenhamos quepensar que todos somos iguais, essa certeza terá que ser inata, não aprendida.É necessário que não nos sintamos diferentes apenas porque temos uma outra raçaou nos apaixonámos por alguém do mesmo sexo.
Culturalmente ainda temos muito que evoluir. Legalmenteainda há um longo caminho a percorrer.
A evolução, as leismais justas nos direitos dos que ousam seguir um caminho menos tradicional, aconvicção que tantos de nós temos de que ser de outra raça ou escolher amaralguém do mesmo sexo não faz de ninguém diferente ou com menos direitos será osuficiente para que este tipo de crime nunca aconteça no nosso país? Países comuma democracia mais antiga que a nossa, mais evoluídos nas leis, com índices deiliteracia mais baixos têm muito mais problemas com crimes de ódio que nós. Àsvezes acho, e pensei-o várias vezes ao longo deste livro, que quanto maisqueremos normalizar as diferenças mais nos afastamos do objetivo. Há que voltarao básico, ao respeito inerente ao: Somos todos iguais.