Noite e Dia, de Virginia Woolf
Apesar de não ter sido o primeiro livro de Virgínia Woolf que comecei a ler, este foi o primeiro que acabei. Posso dizer que gostei muito mas que não foi uma leitura sempre fácil (o que não a desmerece em nada).
O título remete-nos imediatamente para uma dicotomia que não deixa de nos acompanhar toda a leitura. Noite e dia. Mulher e Homem. Amor e dever. Privilégio e trabalho. Família e Sociedade. Razão e Emoção.
Comecemos pelas duas personagens femininas: Katharine e Mary. Duas mulheres, diferentes e iguais. Uma, Katharine, de uma família tradicional, rica e privilegiada. Neta de um poeta famoso, é a imagem da mulher perfeita para a época: rica, bonita, excelente dona de casa, inteligente e a noiva perfeita. Mas os livros que guarda no seu quarto e que lê à noite quando está sozinha contam outra história. Mary, igualmente inteligente, vinda de uma família bem mais modesta, reclamou para si uma vida diferente: trabalha e é uma sufragista.
Os homens deste romance, William e Ralph, são o contraponto de Katharine e Mary. Ambos são pura emoção e romantismo enquanto elas são muito mais razão e força.
Confesso que senti um empatia muito maior, ou pelo menos muito mais rápida, com Mary (que gostava que tivesse tido um maior protagonismo nestas páginas) que com Katharine e que os homens... bem, digamos, que nenhum me agradou especialmente. Para além de Mary, também gostava de ter lido mais acerca da deliciosa Mrs. Hilbery, uma mulher maravilhosamente doida.
Foi a troca dos tradicionais e expectáveis papéis, num romance escrito por uma mulher e publicado em 1919, que me interessou de imediato. Só uma mulher muito especial, muito à frente do seu tempo, escreveria algo assim. Na verdade quem eu gostei mesmo, mesmo de conhecer ao longo destas páginas foi Virginia Woolf, tenho a certeza que vou continuar a ler os seus livros e que ainda me vou surpreender e aprender.