A Gorda, de Isabela Figueiredo
Não sei se em "A gorda" Isabela Figueiredo exorciza os seus demónios mas não tenho dúvidas de que, ao ler este livro, cada leitor o faz.
Acredito que todos, com maior ou menor intensidade, do lado da vitima ou do lado do agressor, já vivemos situações de preconceito. Seja por uma característica física, uma situação familiar ou apenas por sermos de alguma forma diferentes, todos nós já fomos vencidos pelo preconceito. A maioria de nós terá, espero eu, ultrapassado esse tempo mais ou menos ileso mas a alguns esse preconceito deixou marcas permanentes, moldou personalidades e condicionou futuros.
A Maria Luísa viveu toda a sua vida com preconceito. Às tantas o seu próprio corpo traiu-a e deixou de lhe pertencer, deixou de a representar. Mas ninguém foge do seu corpo. Ninguém consegue evitar ver-se através dos olhos dos outros, através das palavras dos outros. Não imagino o que é chegar ao ponto de optar por se mutilar para finalmente se transformar naquilo que se sabe ser (não se preocupem, está na primeira página, não é nenhum spoiler).
Este livro é feito de emoções. A escrita crua e angustiante da Isabela Figueiredo faz-nos olhar para a Maria Luísa de dentro. Faz-nos embarcar na viagem de auto-conhecimento enviesado que a própria personagem faz ao longo da vida.
Este livro é marcado pelas relações. Pelas relações de amor-ódio que marcam todos aqueles de quem somos próximos, pelas relações dos que entram e saem da nossa vida sem que percebamos bem porquê. Pelas relações que nos moldam e nos levam à felicidade da pertença ou ao abismo da solidão. Pelas relações de amor, com os outros, mas sobretudo connosco. Pelas relações que nos constroem e pelas que nos destroem.
Li este livro de uma forma muito pessoal, tornei-o meu e isso para mim é o maior elogio que lhe posso fazer.