Adoração, de Cristina Drios
"Na verdade sois feito daquilo que o Caravaggio nos seus quadros pinta, sois feito de luz e sombra, de vida e morte, de culpa e perdão"
Quem não conhece a Cristina talvez não saiba mas ela tem uma voz extremamente característica. Ler este livro foi (quase) ouvi-la contar esta história.
O Adoração para mim será sempre o livro onde aprendi um pouco sobre Michelangelo Merisi, o Caravaggio. E acho que é isso que a Cristina pretende. Falar-nos de Caravaggio. Falar-nos de amor, de perfeição, de erros, de sombras, de obsessão, de luz, de vida.
A realidade e a ficção misturam-se (admiravelmente) nas várias histórias que nos são contadas. E dentro da ficção as várias histórias entrelaçam-se. Antónia Rei e a sua amizade por um pequeno cão, o remorso de Salvatorre Amato, a fuga de Caravaggio, a história de um quadro roubado e a história de amor, desprezo e obsessão de Matteo Mattei.
Só gostaria de ter conhecido melhor Antónia Rei, gostaria de lhe ter conhecido a força, a fúria, a coragem.
Alguns dias depois de acabar de ler este livro, a personagem que continua a fascinar-me é o duque de Nottetempo. Confesso que ainda não percebi muito bem porque é que este personagem me intrigou tanto uma vez que a palavra que usaria para o descrever seria “execrável” mas a verdade é que me fascinou e acredito que isso se deve à beleza que a autora empresta ao texto, às palavras.
Porque o melhor deste livro é, sem qualquer dúvida, a escrita da Cristina. Vi-me a marcar passagens para reler (logo eu, que nunca marco nada). Dei por mim a ler este livro com calma, saboreando as palavras.
"Caravaggio é, como todos os génios, o futuro que vive entre nós. Um homem cuja idade não se conta a partir do dia em nasceu, mas do dia em que nasceu Adão, e um homem que nunca morrerá por sempre ter sido futuro"