A Gramática do Medo, de Maria Manuel Viana e Patrícia Reis
"esta semana trocamos, fazes de mim e eu de ti"
Sara Santiago e Mariana Sampedro. Mariana e Sara. Duas mulheres que são o avesso uma da outra, a metade uma da outra. Iguais e diferentes. Tão diferentes quanto duas pessoas podem ser sendo iguais.
Um livro a que preciso voltar. Páginas que preciso reler. É demasiado fácil dizer que é um livro sobre o medo, isso é óbvio pelo título. É demasiado redutor dizer que é um livro sobre a amizade ou sobre o amor, apesar de ser isso tudo. É óbvio que é um livro que enaltece as palavras, a literatura, que joga com a realidade e ficção (e como se diz às páginas tantas "cabe ao leito e espectador a terrível tarefa de discernir ficção e história").
Acho que é o tipo de livro que terá um significado diferente para cada leitor. Para mim é um livro sobre o auto-conhecimento. A procura e luta para nos (re)conhecermos. O quão nos castigamos por vezes e como nos iludimos. Sobre as várias partes de nós. A necessidade de morrer e voltar a nascer. A vida como circunferência e não como linha recta.
Arrisquem. Leiam este livro. Falem sobre ele. Discutam as vossas interpretações do que aqui se conta. Há tanto para falar. Quando (antes da página 50) comecei a desenvolver uma teoria sobre o final, achei que me ia desiludir se "acertasse" mas a verdade é que, apesar de achar que acertei em cheio, não me desiludi nem um bocadinho, adorei todo este puzzle. E se já tinha decidido que queria ler tudo o que a Maria Manuel Viana escreveu, agora tenho que ler também tudo o que a Patrícia Reis escreveu. A expectativa de ter tantos livros bons para ler é maravilhosa.
Em Português e no Feminino escreve-se muito bem*.
"...agora sou eu quem te pede para de encontrares, se me encontrares, como eu preciso, posso salvar-nos e seremos um, entendes?"
* não por aqui, claro. Fico sempre com a sensação de que quanto mais gosto de um livro menos consigo transmitir isso. Por isso deixem-me resumir: Este livro é brutal (em vários sentidos). Leiam.