Fantasia para dois coronéis e uma piscina, de Mário de Carvalho
Confesso que peguei neste “Fantasia para dois Coronéis e uma piscina” um bocado a medo. “Medo” não será, talvez, a melhor palavra. Talvez “Respeito”. O respeito que o nome “Mário de Carvalho” transmite. Não sei que esperava mas não era certamente rir à gargalhada. E a verdade é que me ri muito com este livro. Não porque a história seja divertida, porque se for a pensar bem, não o é, é até uma crítica bastante contundente à nossa sociedade. Não por causa da escrita, que é maravilhosa e apesar de me ter obrigado a, volta e meia, dar uma olhadela ao dicionário, é ligeira e escorreita. Ri porque o “non-sense” de determinadas partes me deixou de boca aberta, ri porque há nestas páginas situações muito bem apanhadas. A cena do Xadrez é hilariante (como quase tudo o que rodeia Emanuel) e as da Baronesa são deliciosas.
O ponto forte deste livro não é a história no seu todo. Este é um caso em que, na minha opinião, as partes são bem mais fortes que o todo. Não tenho dúvidas que a maioria das coisas me passou ao lado (uma só leitura não é suficiente para compreender este livro) mas achei muito interessante ver como o autor usa o domínio da linguagem, seja através do elemento surreal (na cena da estação de serviço ou nas conversas entre o Mocho e Melro, por exemplo) ou da piada.
Neste livro, em que dois coronéis passam o tempo na piscina toda a gente fala, conversa. Conversa gente, conversam bichos, até o narrador conversa. Mas eu gostei especialmente de quando um dos coronéis conta uma história do seu passado e no final o outro diz: “se calhar isso passou-se mas foi comigo”.