O fenómeno JRS
Não passa ao lado de ninguém. E não há (que eu saiba) caso igual em Portugal. Só o nome, ou a piscadela de olho, causa excitação ou urticária. Com igual intensidade. Amor e ódio. Não há entrevista, livro ou sucesso (ou tiro no pé) que não seja polémico.
Chega a ser divertido assistir de camarote aos elogios e às críticas. E não é fácil ficar-lhe indiferente. Eu sei que não lhe sou indiferente, a ele e ao seu personagem Tomás Noronha, o meu ódio de estimação (é ele e o Jack Gil, mas isso são contas de outro rosário).
A verdade é que não interessa se a elite da literatura (e quem quer imaginar pertencer a essa elite) acha que ele escreve mal, se os seus livros são bons ou maus, se não se lhe pode chamar escritor. A verdade é que ele põe imensas pessoas a ler. E vende livros como ninguém por terras lusas.
Há gente que assume que lê cada livro assim que é lançado, que gosta e que admite não ler mais nada.
E é demasiado simplista considerar que este sucesso se deve apenas a uma excelente campanha de marketing. Tal como é demasiado arrogante atribuir o sucesso à fraca qualidade da escrita. E demasiado triste atribui-la à fraca qualidade dos leitores.
Da mesma forma que é exagerado chamar-lhe “o melhor” escritor vivo, também o é chamar-lhe “o pior” ou não o aceitar de todo como escritor.
E, se até consigo compreender que haja grupos de leitores fãs e/ou de haters, o que faz mesmo confusão é a guerra cerrada (ou camuflada) que vem de outros escritores. Podem ter toda a razão do seu lado, podem falar com conhecimento de causa mas ao desprezarem o escritor que mais vende estão a menosprezar leitores e minar a sua própria posição.
Sim, toda a gente pode e deve ter a sua opinião. Eu também tenho a minha. E podem dá-la, claro. Mas há que ter conta, peso e medida. Ou corremos o risco de uma crítica, que até podia ser construtiva, passar apenas por inveja ou embirração.