Fahrenheit 451, de Ray Bradbury
Fahrenheit 451,
A temperatura a que o papel do livro
se incendeia a arde
Guy Montag é um bombeiro. Mas os bombeiros já não apagam fogos, afinal todas as casas são à prova de fogo. Os bombeiros queimam livros. São chamados para exterminar os poucos livros que ainda restam. Os livros que impedem a felicidade, perturbam as minorias, impedem a uniformização, a normalização da sociedade. Porque "nem todos nasceram livres e iguais, como diz a constituição, mas todos foram tornados iguais. Cada homem é a imagem de todos os outros; depois todos ficam felizes, porque não há montanhas que os obriguem a aninhar-se, a julgar-se. Assim! Um livro é uma arma carregada na casa ao lado. Queima-se. Tira-se a bala. Abre-se uma brecha no espírito do homem."
Quando Clarisse lhe pergunta se é feliz, Montag não consegui evitar questionar-se. E é a sua luta contra o sistema que acompanhamos ao longo destas páginas. E é inevitável sentirmo-nos inundados pela angústia que está presente em cada frase, cada página deste livro. No centro, a luta de homem, a coragem necessária para um homem se confrontar a si próprio (maior que a necessária para confrontar o próprio sistema) e perceber que nada tem a perder, que a sua própria vida não é importante porque é vazia de sentido.
Foi em 1950 que Ray Bradbury começou a escrever o rascunho de "The Fire Man" que viria a ser "Fahrenheit 451". 1950. Há já 66 anos. O tempo de uma vida passou, tantas vidas passaram entretanto e ler este livro é ser constantemente puxado para o presente. É inevitável ler este livro e não percebermos que aquela é a vida de tanta gente, que escolhe sobreviver sendo conduzida, esvaziando a mente, vivendo emoções virtualmente, tornando sua a vida de personagens vazias e secas e esquecendo-se de viver, de construir a própria vida.
Visionário ou arauto de desgraças, não sei. Visionário, sem dúvida. Afinal, como o autor nos diz na parte final deste livro:
"Há mais do que uma maneira de queimar um livro. E o mundo está cheio de pessoas que correm de um lado para o outro com fósforos acesos."
Leiam, é um livro incontornável.