A Árvore das Palavras, de Teolinda Gersão
Este A árvore das Palavras é um segredo bem guardado da nossa literatura. Pouco conhecido, pouco comentado, (não sei se) pouco lido, é um maravilhoso livro que faz uma homenagem em três actos. Mais que contar uma história (que conta e bem contada) Teolinda Gersão homenageia Moçambique, um continente. Homenageia as gentes de lá, as de cá que foram também e acima de tudo de lá, homenageia uma época que não tornará a ser.
Mas o que salta à vista assim que começamos a ler este livro é a beleza das palavras. A beleza das palavras enrola-nos e obriga-nos a ler devagarinho, saboreando cada frase. Obriga-nos a descobrir um país e a falar de Amor (Viver é muito fácil, porque meço a partir de ti o norte e o sul. Basta que existas para que os meridianos se arrumem e os oceanos não transbordem) e de dor e da pior solidão de todas, a solidão acompanhada.
As palavras deste livro brincam connosco e fazem-nos caminhar pelos caminhos escolhidos pela autora.
"Ou falava, como ela, às formigas: Ouvi, formigas, o que tenho pra contar.
As formigas, vendo bem, era com quem melhor se falava. Se se contasse algum segredo aos pássaros, eles podiam gritá-lo sobre os telhados e espalhá-lo pelo mundo. Mas com as formigas estava-se seguro. E depois havia tantas, nem era necessário procurar, estava sempre uma por perto. Ouvi, formigas, o que vou dizer agora.
Ou sentava-me debaixo da árvore do quintal e falava com o vento e as folhas. A árvore abanava os ramos e eu pensava: a árvore das palavras."
Uma história contada em 3 actos. Primeiro conhecemos Gita, criança. Vemos o seu mundo pelos seus olhos, caminhamos de mão dada com ela pelas ruas de Lourenço Marques, sentimos o carinho do Pai e a distância da Mãe. O tempo não existe, anda para a frente e para trás, acompanhando as memórias e as emoções de uma criança. No segundo acto conhemos finalmente Laureano e Amélia. Principalmente Amélia, que será para mim sempre a personagem mais importante destas páginas. E por fim, Gita, jovem mulher conta-nos o final de umas histórias e o príncipio de outras.
Mas no fim acho que desespero, liberdade e sonho são as palavras que retiro destas páginas.
"Isso, entre outras coisas, eu aprendi com África: a pequenez do ser humano, diante da vastidão do que não é humano. Não somos nada, poeira no vento, silhuetas minúsculas, na imensidão da paisagem.
Basta-nos no fundo muito pouco, porque somos também pouco: matar a fome a sede e o desejo de sexo, a esteira para dormir e o coração em paz."
Gostei muito deste livro e é daqueles que irei, certamente, reler. Além disso tive o privilégio de ouvir a escritora a falar sobre este livro no LEYA em Grupo. Foi, como sempre, fantástico.